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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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informou a velha, esfregan<strong>do</strong> a mão direita sobre o braço esquer<strong>do</strong>, um sinal que Cássio<br />

conhecia muito bem.<br />

— Estou no escuro, literalmente. Ela deixou um bilhete explican<strong>do</strong> que tinha i<strong>do</strong><br />

para o hospital, mas não disse qual.<br />

Dona Gema ficou parada com os olhos miú<strong>do</strong>s e ainda esfregan<strong>do</strong> o braço<br />

lentamente.<br />

— Pode dizer, <strong>do</strong>na Gema. O que a sua filha fez pra senhora estar assim?<br />

— Ela saiu ce<strong>do</strong> ontem e não voltou até agora. Tá tu<strong>do</strong> uma confusão. Estou tão<br />

preocupada, ela sempre liga, dá um sinal, mas dessa vez estou aqui, presa em casa sem<br />

saber o que fazer.<br />

— Olha, <strong>do</strong>na Gema, posso não ser a melhor pessoa pra reconfortá-la nesse<br />

momento, mas, se lhe acalma, acho que metade da população da cidade está passan<strong>do</strong><br />

pela mesma aflição. Os telefones estão sem funcionar desde ontem de manhã, a cidade<br />

está um caos, um pandemônio. Logo, logo a Thaís aparece aí na porta da sua casa.<br />

Cássio Porto an<strong>do</strong>u até a cozinha e apanhou seu celular. Discou o número da irmã.<br />

Estava mu<strong>do</strong>. Mesmo que funcionasse e chamasse, ele sabia que ela estava sem o<br />

aparelho. O celular tinha vira<strong>do</strong> um mero relógio. Três horas da manhã. Tinha <strong>do</strong>rmi<strong>do</strong><br />

demais. Seus olhos deram em <strong>do</strong>na Gema, ainda aflita.<br />

— Fala, <strong>do</strong>na Gema. O que mais te aflige?<br />

— Se ela não chegar até de manhã, você me ajuda a procurar minha filha? — pediu a<br />

mulher, com os olhos rasos d’água.<br />

Cássio refreou o ímpeto de confortá-la e abraçá-la. Estava diante da mulher que<br />

acobertara e encorajara a sua ex-esposa a arranjar outro parti<strong>do</strong>. Dona Gema tinha essa<br />

face meiga, essa cara de boa velhinha, mas era uma cobra bem peçonhenta quan<strong>do</strong><br />

queria, e sabia se fazer de vítima na hora certa. Ele tinha prometi<strong>do</strong> não contar nada para<br />

a sogra sobre os problemas de saúde que enfrentava por culpa da infidelidade da exmulher.<br />

Dona Gema era uma moralista de meia pataca, que tinha os valores bem<br />

flexíveis, dependen<strong>do</strong> a respeito de quem falava mal.<br />

— Olha, <strong>do</strong>na Gema, eu a<strong>do</strong>raria — disse o homem, seguran<strong>do</strong> a senhora pelos<br />

ombros e giran<strong>do</strong>-a em direção à porta. — Primeiro preciso achar minha irmã, o Felipe e<br />

a Megan. Enquanto eu procuro, por que você não pede para o namora<strong>do</strong> da Thaís ir<br />

atrás dela?<br />

— Eu não consigo falar com ele também. E aquele homem é uma banana.<br />

— Pois é. Disso eu já sabia. Boa noite, <strong>do</strong>na Gema, tente <strong>do</strong>rmir. Tranque a porta.<br />

— Eu não enten<strong>do</strong> por que você está agin<strong>do</strong> assim, filho. Ela foi sua esposa.<br />

— Pois é, <strong>do</strong>na Gema. Ela foi. Não é mais, e não é problema meu onde ela está.

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