19.04.2013 Views

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

CAPÍTULO 41<br />

Mais uma vez o sargento chegava à frente de sua casa. Desmontou da égua e<br />

amarrou-a ao portão. Entrou encontran<strong>do</strong> a casa silenciosa e vazia. Dessa vez nenhum<br />

bilhete da irmã. Um desânimo brutal cobriu seu corpo cansa<strong>do</strong>. Estava exausto, mas era<br />

impossível pensar em descansar nesse momento. Uma agonia muito maior incomodava<br />

seus pensamentos. Durante o trajeto até sua casa tinha perdi<strong>do</strong> as contas de quantos<br />

corpos ataca<strong>do</strong>s pelas feras da noite tinha encontra<strong>do</strong>, caí<strong>do</strong>s nas esquinas, no meio das<br />

avenidas, presos dentro de seus carros. Via gente choran<strong>do</strong> que o chamava, claman<strong>do</strong> por<br />

ajuda, gritan<strong>do</strong> que tinha um deles dentro de casa. Cássio não parou, e isso o consumia.<br />

Ele não podia parar. Não podia. Aquela desgraça tinha se esparrama<strong>do</strong> por toda a cidade.<br />

Em cada prédio, em cada rua, em cada casa havia uma daquelas feras agora. Havia ainda<br />

os a<strong>do</strong>rmeci<strong>do</strong>s, perdi<strong>do</strong>s em suas camas, em seus sofás, esqueci<strong>do</strong>s pelo mun<strong>do</strong>,<br />

deixa<strong>do</strong>s para trás. Quan<strong>do</strong> o sol caísse aquelas feras estariam livres mais uma vez, e a<br />

próxima noite seria muito pior que a anterior. Agora as feras da noite sabiam que<br />

queriam o sangue <strong>do</strong>s vivos e sabiam onde encontrá-los. Cássio arrastou-se até sua casa<br />

nos fun<strong>do</strong>s, encontran<strong>do</strong>-a igualmente vazia. Tomou uma ducha e colocou uma farda<br />

limpa. Poderia levar uma consigo, para quebrar um galho para o Graziano, mas o amigo<br />

era maior, não passaria nem o braço numa camisa sua. O sargento an<strong>do</strong>u até a geladeira<br />

de sua pequena cozinha e ali parou por um segun<strong>do</strong>. Abriu a porta devagar. Apesar da<br />

falta de energia, seu interior ainda estava frio. Retirou uma caixa de isopor de dez por<br />

dez centímetros e a colocou em cima da pia, tornan<strong>do</strong> a fechar a geladeira. Ficou<br />

olhan<strong>do</strong> para sua caixa de remédios. Não tinha ideia de quan<strong>do</strong> teria outra daquelas em<br />

suas mãos, ou se um dia teria. Não era um remédio que podia comprar em qualquer<br />

farmácia. Caso as coisas continuassem como estavam, não veria a medicação novamente,<br />

e não tardaria a começar a sofrer os efeitos. Abriu a caixa e tomou quatro comprimi<strong>do</strong>s.<br />

A última <strong>do</strong>se segura. Raspou um pouco de gelo <strong>do</strong> freezer que degelava e o<br />

acondicionou sobre a última cartela dentro da caixa de isopor. Eles tinha si<strong>do</strong> muito<br />

claros quanto a esse tratamento experimental. O remédio era vivo e nunca poderia ficar<br />

em temperatura ambiente, sempre resfria<strong>do</strong>. Não sabia se poderia continuar toman<strong>do</strong>.<br />

Não sabia se era mais seguro abster-se da medicação que arriscar um remédio ruim. O<br />

retorno ao Hospital Geral de São Vítor estava marca<strong>do</strong> para dali a dez dias. Dias que não<br />

sabia se veria. Lutaria por eles, com toda a gana, mas sabia que o futuro era uma<br />

promessa sombria. Fogo e fumaça. Tinha sonha<strong>do</strong> com a cidade arden<strong>do</strong> em fogo e

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!