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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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— Ela é louca — esbravejou Cássio.<br />

— É melhor que ela não seja — disse o tenente.<br />

— Por quê?<br />

— Porque ela disse que sabe onde as crianças estão.<br />

Cássio arregalou os olhos e começou a caminhar em direção ao portão. Não sabia<br />

quan<strong>do</strong> tinha começa<strong>do</strong> a correr, mas, ao chegar junto à velha, parecia um cavalo a<br />

galope.<br />

— Diga, <strong>do</strong>na Tânia. Diga! Onde estão meus sobrinhos?<br />

A velha, com uma voz rouca, levantou a mão enrugada por conta <strong>do</strong>s seus quase<br />

noventa anos e apontou para o fim da rua.<br />

— Eu vi tu<strong>do</strong> ontem, menino. Eu tentei ajudar, mas eu sou só uma velha. Eu ouvi sua<br />

irmã gritan<strong>do</strong>, ouvi os tiros. Mas a noite estava escura e to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> na covardia,<br />

recolhi<strong>do</strong>.<br />

— O que a senhora viu?<br />

— Eu vi um homem sair daqui, levan<strong>do</strong> sua irmã de ansim — disse a velha, fazen<strong>do</strong><br />

como se carregasse alguém no ombro. — E arrastan<strong>do</strong> as crianças pelos cabelos.<br />

Cássio olhou para o fim da rua e disparou corren<strong>do</strong> em direção ao clube.<br />

— Espera, menino! — gritou a velha. — Eu fui atrás dele. Eu sei para onde ele levou<br />

as suas crianças.<br />

Cássio, aturdi<strong>do</strong>, freou a corrida. Seu sangue fervia dentro das veias e era uma<br />

tortura esperar os passos fracos e indecisos da anciã. Contu<strong>do</strong>, esperá-la era o mais<br />

sensato. Ela ia salvar um tempo precioso em sua busca. Talvez encontrasse Megan e<br />

Felipe com vida. Essa esperança brilhava como uma luz fraca num candeeiro distante e<br />

tremeluzente, mas existia, era um caminho.<br />

Cássio parou e virou-se para a velha. Dona Tânia. Lembrava-se dele ainda moleque,<br />

corren<strong>do</strong> pela rua, e ela cuidan<strong>do</strong> de um cachorro de um olho só, o Rex, um temi<strong>do</strong><br />

vira-lata que volta e meia escapava pelo portão, corren<strong>do</strong> como um demônio atrás das<br />

crianças. Alessandra havia fala<strong>do</strong> que a <strong>do</strong>na Tânia a<strong>do</strong>ecera, há muito, numa conversa de<br />

já bastante tempo. Tu<strong>do</strong> recendia a velhice e esquecimento na imagem daquela senhora.<br />

Ele vinha, um pouco mais rápi<strong>do</strong> agora, toman<strong>do</strong> chuva e com a mão estendida,<br />

mostran<strong>do</strong> os portões <strong>do</strong> Clube Atlético Tremembé.<br />

— Eu ouvi os tiros, moço. Ouvi cinco tiros, eu acho. Daí eu saí na minha janela. Já<br />

estava tu<strong>do</strong> escuro, mas eu sou boa da vista ainda, acredite ou não. Os cachorros latiam e<br />

eu não vi nenhum diabo na rua.<br />

Cássio estava impressiona<strong>do</strong> com a coragem da mulher, a noite passada tinha si<strong>do</strong><br />

tomada por vampiros e ela se aventurara para fora de casa.

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