19.04.2013 Views

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Castro chegou até a porta e olhou para dentro.<br />

— Aposto que é o Adão.<br />

— Quem?<br />

— O pesca<strong>do</strong>r, Ikeda. Na sala tem um monte de fotos de pesca.<br />

— Melhor chamar um <strong>do</strong>s enfermeiros pra ver se esse cara tá vivo.<br />

— Tá respiran<strong>do</strong>?<br />

— Não sei.<br />

Outro trovão ribombou <strong>do</strong> la<strong>do</strong> de fora, e um relâmpago infestou as brechas das<br />

cortinas de luz, dan<strong>do</strong> uma breve visão <strong>do</strong> ambiente.<br />

— Sinistro isso aqui.<br />

Do la<strong>do</strong> de fora <strong>do</strong> quarto, in<strong>do</strong> para a cozinha, Rui sentiu vontade de urinar e olhou<br />

para uma porta no corre<strong>do</strong>r. Devia ser o banheiro. Ainda mais porque dali saía água em<br />

profusão. A pessoa que os solda<strong>do</strong>s tinham acha<strong>do</strong> no quarto poderia ter deixa<strong>do</strong> o<br />

chuveiro liga<strong>do</strong> enquanto caía no sono, isso explicaria o alagamento. Abriu a porta<br />

ouvin<strong>do</strong> a água despencar, não <strong>do</strong> chuveiro, mas de uma banheira de louça. Uma imensa<br />

e linda banheira branca ocupada por um cadáver incha<strong>do</strong> e arroxea<strong>do</strong>. O fe<strong>do</strong>r de<br />

carniça vinha dali. Não era carne na geladeira nem leite estraga<strong>do</strong>. Era um corpo<br />

apodrecen<strong>do</strong> numa banheira que transbordava.<br />

— Ei! Vocês tem que ver isso! — gritou o chaveiro.<br />

Castro deixou o quarto primeiro, trazen<strong>do</strong> a lanterna e notan<strong>do</strong> a água jorran<strong>do</strong> para<br />

fora <strong>do</strong> banheiro. Quan<strong>do</strong> entrou no cômo<strong>do</strong> jogou a luz sobre o cadáver deteriora<strong>do</strong> na<br />

banheira.<br />

— Putz, Rui! Que nojo!<br />

— Tá embaça<strong>do</strong> mesmo — disse o chaveiro, usan<strong>do</strong> seu boné para cobrir o nariz.<br />

— É uma mulher — tornou o solda<strong>do</strong>.<br />

Rui adentrou o banheiro pé ante pé, evitan<strong>do</strong> molhar ainda mais os tênis na água, e<br />

abriu o zíper para mijar no vaso.<br />

— Você é <strong>do</strong>ente, Rui. Vai mijar na frente da morta?<br />

— Tô aperta<strong>do</strong>, Castro. Dá um tempo. Se eu mijo nas calças vocês vão ficar me<br />

tiran<strong>do</strong> de mijão, achan<strong>do</strong> que tenho me<strong>do</strong> de morto. Eu tenho me<strong>do</strong> é daqueles<br />

miseráveis suga<strong>do</strong>res de sangue. Disso aí eu não tenho me<strong>do</strong>, não — explicou o chaveiro,<br />

enquanto o jato de urina já descia gorgolejan<strong>do</strong> pelo vaso.<br />

Ikeda parou na porta <strong>do</strong> banheiro com a mão no nariz.<br />

— Deve ser a esposa <strong>do</strong> pesca<strong>do</strong>r, tem foto dela na sala também.<br />

Castro deixou a porta e parou no corre<strong>do</strong>r, um barulho leve atrás de sua cabeça tinha<br />

chama<strong>do</strong> a sua atenção. Era como se um bicho pequeno, um cachorro ou um rato, tivesse

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!