19.04.2013 Views

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Alessandra chorava profundamente, com a voz escondida por soluços e gorgolejos.<br />

Ela tremia, e as lágrimas abriram duas colunas brancas em seu rosto enlamea<strong>do</strong>. Cássio<br />

sabia que ela estivera nos esgotos, só não sabia como tinha i<strong>do</strong> parar lá e como tinha<br />

consegui<strong>do</strong> sair.<br />

— Onde eles estão, Alê? Onde eles estão?<br />

Ela chorava sem conseguir falar, enquanto seus olhos se arregalaram e seu corpo<br />

começou a chacoalhar por inteiro. Cássio desvencilhou-se da irmã e gritou pelo nome de<br />

Alexandre. Os enfermeiros correram até a casa <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s, enquanto Cássio trazia a irmã<br />

no colo para fora.<br />

— Ela está em choque! — gritou Cássio.<br />

Alexandre coman<strong>do</strong>u o atendimento. A paciente tremia <strong>do</strong>s pés à cabeça, seus olhos<br />

estavam fixos no irmão, as mãos crispadas, e os pés, descalços, retesa<strong>do</strong>s. A pele e as<br />

roupas cobertas por uma membrana negra e fétida. Ela ergueu as mãos para o irmão, ela<br />

queria falar. Alexandre passou a tira da bolsa de ar sobre o braço da mulher, enquanto a<br />

enfermeira Gláucia operava o aparelho de pressão arterial. Ela estava ten<strong>do</strong> um episódio<br />

de taquicardia. Nádia apalpou os membros superiores e inferiores da mulher, a sujeira<br />

era tanta que era impossível ver se ela tinha ferimentos ou fraturas abertas ou fechadas.<br />

Nádia fez o exame com presteza e, com o uso de gazes e soro, foi limpan<strong>do</strong> o rosto e os<br />

braços da mulher. Ela estava arranhada e tinha um pequeno corte no cotovelo, nada<br />

muito grave e livre de sangramento. Apesar de pequeno, a enfermeira temeu o corte<br />

aberto em contato com aquela lama fe<strong>do</strong>renta, que parecia ter vin<strong>do</strong> <strong>do</strong> fun<strong>do</strong> das<br />

galerias de esgoto, lavan<strong>do</strong> a ferida e cogitan<strong>do</strong> uma sutura.<br />

— Saiam de cima dela, ela precisa respirar — orientou Alexandre.<br />

— Você vai dar alguma coisa pra ela? — perguntou Nádia.<br />

O enfermeiro não respondeu, olhou para a maleta <strong>do</strong> <strong>do</strong>utor Elias. Chegou a pegar<br />

um frasco na mão, mas voltou a colocá-lo na maleta, deixan<strong>do</strong> claro que estava em<br />

dúvida.<br />

— Ela precisa respirar, calma.<br />

Alessandra continuava tremen<strong>do</strong>. A pressão arterial estava baixa, e os batimentos<br />

cardíacos beiravam os duzentos por minuto, enquanto ela tinha a respiração curta e<br />

acelerada. O enfermeiro sabia que precisava intervir; se os batimentos aumentassem, ela<br />

poderia ter um ataque cardíaco.<br />

— Ela tem alergia a alguma medicação? — perguntou.<br />

Cássio ajoelhou-se ao la<strong>do</strong> de Alexandre, mu<strong>do</strong>, com os olhos presos nos olhos da<br />

irmã. Ele sabia que ela queria falar. Ela queria falar das crianças e, pelo seu esta<strong>do</strong>,<br />

Cássio já sabia. Sabia que algo de terrível tinha aconteci<strong>do</strong> aos sobrinhos.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!