19.04.2013 Views

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

— Vi um vulto que correu para a parede quan<strong>do</strong> eu me aproximei. Pensei que era<br />

um bicho que ainda estava aqui, não vi a janela aberta.<br />

— Eu fechei a janela quan<strong>do</strong> arrumei o quarto. Você abriu?<br />

Everal<strong>do</strong> ficou olhan<strong>do</strong> para a janela por um segun<strong>do</strong>. O brilho vermelho nos olhos<br />

<strong>do</strong> animal <strong>do</strong> mato voltaram à sua memória, terríveis, assusta<strong>do</strong>res. Deu uma volta com a<br />

fronha no pescoço da esposa, cuida<strong>do</strong>samente prenden<strong>do</strong> em um nó, toman<strong>do</strong> a<br />

precaução de não estrangulá-la com o curativo. Levantou-se e apanhou o lampião,<br />

conduzin<strong>do</strong>-o até a janela. Algumas gotas de sangue ali. O bicho tinha mordi<strong>do</strong> a esposa<br />

e deixa<strong>do</strong> o sangue pingar pelo caminho. Colocou o lampião para fora da casa,<br />

iluminan<strong>do</strong> um pedaço <strong>do</strong> grama<strong>do</strong>. Em sua cabeça tinha visto um vulto grande, um<br />

vulto de um bicho, com aqueles olhos de criatura da noite, que refletem qualquer fio de<br />

luminosidade. Era impossível não reavivar a imagem das meninas morden<strong>do</strong> e toman<strong>do</strong> o<br />

sangue da mulher na calçada de sua rua.<br />

— Era um morcego? Aqui tem muito morcego.<br />

— Não era morcego nenhum, Dolores! Era um bicho grande, já falei.<br />

A mulher ficou calada, passan<strong>do</strong> a mão nas costas <strong>do</strong> bebê.<br />

— Morcego. Se fosse morcego eu ia dizer que ele voou daqui, voou pelo quarto. Era<br />

bicho! Cachorro, lobo, sei lá. Era algo grande e ficou grunhin<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> eu entrei. Nada<br />

de morcego — resmungou o homem, voltan<strong>do</strong> a inspecionar a ferida da esposa. Mais essa<br />

agora.<br />

— Tá bom, já entendi. Não precisa ser um cretino.<br />

— Ah! Vá se foder, Dolores. Não tô sen<strong>do</strong> cretino. Estou preocupa<strong>do</strong> com a minha<br />

mulher, só isso.<br />

Os <strong>do</strong>is ficaram quietos e não demorou para Everal<strong>do</strong> se sentir um merda egoísta<br />

quan<strong>do</strong> ouviu os soluços da mulher voltan<strong>do</strong>. Ela tinha perdi<strong>do</strong> o mari<strong>do</strong> naquela tarde,<br />

e ele, Everal<strong>do</strong>, estava ali nervoso, cuidan<strong>do</strong> de um machuca<strong>do</strong> em sua esposa que, ao<br />

menos, estava viva.<br />

— Me desculpa, Dolores. Eu estou muito nervoso com tu<strong>do</strong> isso.<br />

— E eu não, né? Meu mari<strong>do</strong> morreu, esqueceu? Meu pai, o seu amigo, está num<br />

hospital para o qual eu não posso ir, minha mãe está aí apagada, e estou supertranquila<br />

para ficar aguentan<strong>do</strong> berros no meu ouvi<strong>do</strong> de um mal-agradeci<strong>do</strong>!<br />

— Já pedi desculpas, Dolores! Vamos nos acalmar e nos ajudar. Eu não queria gritar<br />

com você. Eu também não abri a janela. Isso está me deixan<strong>do</strong> intriga<strong>do</strong>.<br />

Everal<strong>do</strong> levantou-se e fechou a janela de novo.<br />

— Vamos ver a sua mãe.<br />

— Você acha que...

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!