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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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— Não é mais uma criança, Rui. É um deles — definiu Paulo.<br />

“Um deles” queria dizer muita coisa. O garoto agora pertencia a outra classe. Era um<br />

adversário a ser venci<strong>do</strong>.<br />

Os outros três estavam rosnan<strong>do</strong> também e se preparan<strong>do</strong> para sair <strong>do</strong> fun<strong>do</strong> e lutar<br />

por suas vidas. Ao que parecia não queriam morrer ali, dentro daquele ônibus, sem<br />

oferecer resistência.<br />

— Cássio, faz alguma coisa! — clamou o chaveiro.<br />

O policial subiu em uma das poltronas acolchoadas. Seu capacete branco baten<strong>do</strong> na<br />

parte de cima <strong>do</strong> veículo, forçan<strong>do</strong>-o a se curvar. Fez mira no pequeno agressivo. Não<br />

era mais uma criança. Um disparo o fez tombar de la<strong>do</strong>, gritan<strong>do</strong>. O pequeno levantou<br />

com um pedaço de pele arranca<strong>do</strong> de seu rosto, deixan<strong>do</strong> o esqueleto branco de seu<br />

maxilar à vista. O segun<strong>do</strong> tiro cravou-se em sua cabeça, cessan<strong>do</strong> os grunhi<strong>do</strong>s e as<br />

ameaças conforme ele tombava para a frente. Rui deu mais um passo adiante, alcançan<strong>do</strong><br />

a mão trêmula <strong>do</strong> menino abati<strong>do</strong>, e puxou-a para perto das fileiras ensolaradas, quan<strong>do</strong><br />

mais um <strong>do</strong>s monstros saltou das sombras tentan<strong>do</strong> atacá-lo. Rui caiu de costas e Paulo,<br />

agilmente, mais uma vez tirou o vampiro de cima <strong>do</strong> chaveiro, jogan<strong>do</strong>-o contra o chão<br />

ilumina<strong>do</strong>. Rui ajoelhou-se e puxou novamente a mão da criança abatida, trazen<strong>do</strong>-a<br />

para o sol. Os corpos daqueles <strong>do</strong>is vampiros começaram a fumegar e foram<br />

arremessa<strong>do</strong>s pela abertura lateral. Quan<strong>do</strong> queimavam e gritavam, fazen<strong>do</strong> com que<br />

escamas negras subissem pelo ar, exalavam um cheiro acre e sulfuroso. Mas o que<br />

marcava eram os gritos. Como gritavam! Rui, toma<strong>do</strong> pelo momento, abriu mais duas<br />

cortinas à direita, sobran<strong>do</strong> agora três fileiras de bancos. Foi para a esquerda e abriu<br />

também as duas dali. Avançou mais uma fileira, ouvin<strong>do</strong> os gritos <strong>do</strong> la<strong>do</strong> de fora <strong>do</strong>s<br />

que pereciam sob o sol e os rosna<strong>do</strong>s agressivos <strong>do</strong>s que se espremiam ao fun<strong>do</strong>.<br />

Pareciam indefesos agora. Abriu as cortinas, e o sol entran<strong>do</strong> inclina<strong>do</strong> não deixou mais<br />

esconderijo para os monstros. Eles começaram a fumegar de leve a princípio, com os<br />

olhos vermelhos extravasan<strong>do</strong> lágrimas de sangue.<br />

— Não! — gritou um deles, para surpresa <strong>do</strong> grupo.<br />

Rui ficou olhan<strong>do</strong> para a mulher que tremia e chorava vermelho, vacilan<strong>do</strong> em sua<br />

determinação de agarrá-la e arrancá-la daquele ônibus.<br />

— Eu... Eu estou com me<strong>do</strong> — disse a vampira. — Eu não sei o que deu em mim. Eu<br />

não queria matar nenhum deles.<br />

O rosto dela exalava uma fina fumaça branca que subia pelo ar. Eram os olhos mais<br />

tristes que Rui já tinha visto em toda a vida.<br />

— Eu não queria matar nenhum deles nem vocês, eu juro.<br />

Rui sentiu uma mão em seu ombro, afastan<strong>do</strong>-o para o la<strong>do</strong>. Era Cássio. O sargento

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