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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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mãe em seu quarto quan<strong>do</strong> voltasse para casa porque aquele maldito panfleto caí<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

céu dizia para assim fazer? As pessoas estavam aban<strong>do</strong>nan<strong>do</strong> seus postos em escritórios e<br />

lanchonetes, em lojas de produtos importa<strong>do</strong>s e farmácias. A cidade inteira estava em<br />

colapso, as horas avançariam e logo a noite chegaria mais uma vez. Com a escuridão<br />

viriam aqueles outros personagens que tinham começa<strong>do</strong> a povoar as ruas de São Paulo.<br />

Era nessas criaturas sombrias que Cássio Porto pensava enquanto estugava sua égua,<br />

subin<strong>do</strong> em direção ao centro velho.<br />

— Cara, estou perdidinho no meio disso aqui.<br />

— Vamos na direção da República agora e pegamos a Consolação, acho que é o<br />

caminho mais direto daqui.<br />

— Não tô falan<strong>do</strong> disso, Porto. Pelo amor de Jesus Cristo! Tô falan<strong>do</strong> desse cenário.<br />

Dessa visão. Não dá pra acreditar que é o mesmo centro da cidade de dias atrás. Ontem<br />

ainda tava quase tu<strong>do</strong> normal.<br />

— Então sua ficha demorou para cair, Rossi. Ontem eu já senti o clima muito<br />

estranho. Se alguém for escrever sobre o fim <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, vai ter que escrever sobre aquela<br />

madrugada.<br />

— Não dá para entender tanta gente a<strong>do</strong>rmecida. Só no meu andar são sete casos.<br />

Moram treze pessoas no meu andar. Quatro apartamentos. Sete casos. Agradeço a Deus<br />

por estar aqui, acorda<strong>do</strong>.<br />

— É, não sei. Tô achan<strong>do</strong> muito ce<strong>do</strong> pra gente agradecer por qualquer coisa. Isso<br />

tu<strong>do</strong> tá com cara de que vai piorar um boca<strong>do</strong> antes de voltar ao normal.<br />

— Não seja tão pessimista. O que poderia acontecer para isso aqui ficar pior <strong>do</strong> que<br />

já está?<br />

— A que horas você saiu <strong>do</strong> batalhão ontem, Rossi?<br />

— Fiquei de plantão até a meia-noite. Como a Marginal tava engarrafada, resolvi<br />

<strong>do</strong>rmir no quartel mesmo.<br />

— Poxa, o trânsito tava tão feio assim? Dava para você ter i<strong>do</strong> por dentro. Não<br />

precisava ter <strong>do</strong>rmi<strong>do</strong> no quartel.<br />

— Moro sozinho agora, esqueceu? Como não tinha ninguém me esperan<strong>do</strong>, também<br />

não quis me incomodar. Até que <strong>do</strong>rmi bem no alojamento. Na noite passada eu tava de<br />

folga, e foi osso <strong>do</strong>rmir em casa por causa <strong>do</strong> cheiro.<br />

— Que cheiro?<br />

— Um cheiro de perfume que impregnou tu<strong>do</strong> lá no meu prédio.<br />

— Estranho.<br />

— Estranho? Você nem sabe. Ontem de manhã eu perguntei pro porteiro, ninguém<br />

mais sentiu o diacho <strong>do</strong> cheiro, só eu. Sozinho lá no meu apartamento, sentin<strong>do</strong> cheiro

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