19.04.2013 Views

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

— Sete e meia da noite, meu bem.<br />

— Por que você ainda está aqui? Você vai embora às sete...<br />

A mulher puxou uma banqueta para o la<strong>do</strong> <strong>do</strong> leito de Wan<strong>do</strong>. As demais crianças<br />

<strong>do</strong>rmiam, ou sedadas, ou cansadas da luta. Ela tinha tempo para ele. Sentou-se ao seu<br />

la<strong>do</strong> e voltou a acariciar o rosto <strong>do</strong> menino, suavemente, emulan<strong>do</strong> um carinho de mãe.<br />

— Minha cabeça está latejan<strong>do</strong>, Mall. E minha barriga tá roncan<strong>do</strong>.<br />

— É normal, meu bem. Se sua cabeça começar a <strong>do</strong>er demais, me avisa; a <strong>do</strong>utora<br />

Ana está de plantão, ela te prescreve alguma coisa para aliviar.<br />

— Deu tu<strong>do</strong> certo na cirurgia?<br />

A pergunta fatídica. Mallory suspirou. Ela sempre preferia a sinceridade com as<br />

crianças. Eram muito mais maduras <strong>do</strong> que se pensa. Encarou os olhos castanho-claros <strong>do</strong><br />

menino.<br />

— Não, meu bem. Não foi opera<strong>do</strong> ainda.<br />

O garoto revirou os olhos e afun<strong>do</strong>u um pouco mais a cabeça no leito. Pareceu<br />

pensar. Então ergueu o lençol e olhou para seu ab<strong>do</strong>me.<br />

— Pelo menos minha barriga desinchou.<br />

A enfermeira levantou-se da cadeira e também soergueu o lençol da barriga <strong>do</strong><br />

menino. Afastou a bata que recobria a pele e viu o ab<strong>do</strong>me. Seus olhos não esconderam o<br />

espanto. No turno de ontem a barriga <strong>do</strong> garoto estava bastante inchada e abaloada.<br />

Agora estava praticamente lisa. Mallory apalpou suavemente próximo ao umbigo <strong>do</strong><br />

menino e depois pressionou um pouco mais forte.<br />

— Dor?<br />

Wan<strong>do</strong> balançou a cabeça negativamente. Mallory avaliou que a ausência de <strong>do</strong>r<br />

poderia ser resulta<strong>do</strong> da bomba PCA.<br />

— Vou chamar a <strong>do</strong>utora. Ela virá dar uma olhadinha.<br />

— Isso é ruim?<br />

Mallory levou a mão à boca e olhou para a barriga <strong>do</strong> menino, depois para os olhos<br />

dele.<br />

— Não, Wan<strong>do</strong>. Acho que não. Acho que é uma coisa muito boa. Só não estou<br />

entenden<strong>do</strong>.<br />

A enfermeira voltou ao balcão da enfermagem e foi ao telefone. Chamaria a médica<br />

em seu ramal. Ficou com o aparelho mu<strong>do</strong> no ouvi<strong>do</strong> por uns segun<strong>do</strong>s, até se dar conta<br />

da inutilidade daquilo e recolocá-lo no encaixe, sentin<strong>do</strong>-se uma tonta perfeita. Os<br />

telefones ainda não funcionavam. Voltou ao quarto de Wan<strong>do</strong>. To<strong>do</strong>s repousavam. Nara<br />

tinha os olhos abertos, mas estava bem calma, reflexiva, talvez. Eram cinco terminais na<br />

sua ala. Cinco pequenos sofre<strong>do</strong>res. A menina, de oito anos, tinha o rosto muito magro e

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!