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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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— Opa, espera aí. Levá-los?<br />

— É. Vamos salvar estes <strong>do</strong>is.<br />

— Por que você vai perder tempo com esse aí? Tome to<strong>do</strong> o sangue dele, e já era.<br />

— Não. Gostei <strong>do</strong> sangue dele. Ele vai ser minha primeira cobaia. Algo me diz que<br />

eles não vão morrer desidrata<strong>do</strong>s. Quem está <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong> está <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong>, e assim ficará.<br />

— Tá dizen<strong>do</strong> o quê? Que eles vão hibernar que nem urso?<br />

— Quase isso. Eles estão num tipo de pausa que não vamos entender nunca.<br />

— Você está me assustan<strong>do</strong>, Jessé. Desde quan<strong>do</strong> ficou tão sabi<strong>do</strong>?<br />

— Ache uma cadeira de rodas. O outro eu levo no ombro. Depois que tomei seu<br />

sangue estou me sentin<strong>do</strong> até mais forte.<br />

Ludmyla não demorou a voltar com uma cadeira de rodas. Encostou o equipamento<br />

ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> leito de Tomaz enquanto Jessé se posicionava perto de sua cabeça. O jovem<br />

vizinho afagava o cabelo <strong>do</strong> velho. O aparelho, liga<strong>do</strong> à energia de emergência, tinha um<br />

diafragma pneumático que subia e descia, fazen<strong>do</strong> a respiração <strong>do</strong> homem funcionar<br />

mecanicamente. Jessé segurou o tubo que entrava pela boca <strong>do</strong> velho e o desconectou da<br />

peça presa entre seus dentes. O aparelho começou a apitar enquanto o velho continuava<br />

inerte no leito. Jessé removeu a peça da boca de Tomaz, retiran<strong>do</strong> o tubo que, gosmento,<br />

descia por sua garanta, arremessan<strong>do</strong>-o no chão <strong>do</strong> seu la<strong>do</strong>. A dupla ficou em silêncio,<br />

observan<strong>do</strong> aquele homem que deveria morrer em questão de segun<strong>do</strong>s. A cabeça <strong>do</strong><br />

velho começou a tremer, depois seu rosto se contorceu por um breve momento. O velho<br />

emitiu um longo suspiro e então seu peito subiu, inspiran<strong>do</strong>, e desceu, expiran<strong>do</strong>.<br />

Continuava em coma, sem dúvida, a<strong>do</strong>rmeci<strong>do</strong>, pego pelo sono misterioso como tantos<br />

outros paulistas. Então sua respiração se fez presente até ficar quase imperceptível como<br />

nos outros a<strong>do</strong>rmeci<strong>do</strong>s.<br />

Jessé virou-se para o parceiro de internação <strong>do</strong> velho Tomaz e repetiu a operação,<br />

retiran<strong>do</strong> o aparelho respira<strong>do</strong>r <strong>do</strong> homem, que se contorceu por um perío<strong>do</strong> maior que<br />

o velho, mas que no fim das contas, chegou ao mesmo esta<strong>do</strong> a<strong>do</strong>rmeci<strong>do</strong> <strong>do</strong> vizinho.<br />

Desconectou dele os acessos venosos e apanhou o prontuário <strong>do</strong> paciente que estava em<br />

uma prancheta numa bancada ao pé <strong>do</strong> leito.<br />

— Raimun<strong>do</strong> Bispo.<br />

— O quê? — perguntou Ludmyla, pega distraída.<br />

— Esse aqui. Venha e conheça.<br />

— Muito prazer, Ludmyla.<br />

Jessé ergueu a mão inerte <strong>do</strong> paciente e a balançou como quem cumprimenta.<br />

— Muito prazer, Bispo.<br />

Jessé ajeitou o velho Tomaz na cadeira de rodas para que Ludmyla o conduzisse,

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