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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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profissionais de saúde. Alguns, apesar de ganharem sorrisos e injeções de ânimo da equipe<br />

de psicologia, eram priva<strong>do</strong>s de informações... E ficavam com me<strong>do</strong>. Só que dessa vez o<br />

me<strong>do</strong> tinha toma<strong>do</strong> os ossos da enfermeira primeiro, fazen<strong>do</strong>-a jogar aquele jogo<br />

fantasioso, imaginan<strong>do</strong> que, dessa forma infantil, Wan<strong>do</strong> fosse perdurar. Era a hora <strong>do</strong><br />

menino. Era a hora de contar-lhe, numa fresta de lucidez, que tu<strong>do</strong> o que fora possível<br />

fazer já tinha si<strong>do</strong> feito, e só restava esperar. Esperar por ela. A Dona <strong>do</strong> Tempo, a mão<br />

firme que segurava a roldana <strong>do</strong> manto.<br />

A enfermeira deixou o quarto, submersa em suas concatenações. Tomou um susto<br />

quan<strong>do</strong> ouviu seu nome sen<strong>do</strong> chama<strong>do</strong> alto pelo corre<strong>do</strong>r. Era a voz da médica<br />

intensivista.<br />

— Mallory, vou precisar de você.<br />

A enfermeira secou outra lágrima e endireitou o uniforme, aproximan<strong>do</strong>-se da<br />

oncologista. Se ela a viu choran<strong>do</strong>, não comentou nada.<br />

— Pois não, <strong>do</strong>utora.<br />

— Infelizmente as condições de segurança e a estrutura <strong>do</strong> hospital estão se<br />

degradan<strong>do</strong> rápi<strong>do</strong>, e não temos mais como manter to<strong>do</strong>s os nossos pacientes. Fizemos<br />

uma reunião agora há pouco e estamos liberan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os que têm condições de ser<br />

removi<strong>do</strong>s para outras unidades menos afetadas ou de esperar em casa, sem risco, por<br />

uma semana.<br />

— Por quê?<br />

— As pessoas afetadas por essa moléstia <strong>do</strong> sono são muitas, mas muitas mesmo. Não<br />

teremos condições de socorrer a todas e tememos que os funcionários que faltaram hoje<br />

possam estar sofren<strong>do</strong> desse mesmo mal.<br />

— Não brinca, <strong>do</strong>utora.<br />

— Não estou brincan<strong>do</strong>, não, Mall. A coisa é séria.<br />

Foi então que Mallory olhou pelo vidro da UTI e encarou Wan<strong>do</strong> nos olhos pela<br />

primeira vez naquele dia. Ele estava sereno e imóvel. Daquela distância nem sabia se ele<br />

estava de olhos abertos ou fecha<strong>do</strong>s. A médica sentou-se à mesa das enfermeiras e<br />

apanhou alguns <strong>do</strong>s prontuários daquela ala, começan<strong>do</strong> a lê-los.<br />

— Vamos para o andar <strong>do</strong>s pacientes estáveis e vamos dar instruções precisas para os<br />

pais ou parentes que estiverem acompanhan<strong>do</strong> as crianças. Se alguém estiver sozinho,<br />

informe assim que um parente chegar aqui para visitá-los.<br />

— Enten<strong>do</strong>. Eu quase não consegui entrar hoje, de tanta gente que tinha no saguão.<br />

Já sabem o que aconteceu para tanta gente ficar desse jeito?<br />

— Ainda não há um consenso, Mallory. Esse tipo de coma é muito incomum.<br />

Poderia ser uma catalepsia, mas esse é um distúrbio neural um tanto raro. Esse volume de

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