19.04.2013 Views

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

— Ah, seja positivo, Porto! Se eu ficar mais de um mês aqui com essa gente toda eu<br />

fico <strong>do</strong>i<strong>do</strong>. Acho que em dez dias o governo dá um jeito em tu<strong>do</strong>. Eles têm muito a<br />

perder se a sociedade se desmembrar. Eles têm bancos, impostos a perder, todas as<br />

mor<strong>do</strong>mias que criaram para os políticos mamarem nas tetas <strong>do</strong>s cofres públicos. Se fosse<br />

só a <strong>do</strong>ença, eu até pensaria que poderíamos ficar aqui para sempre, mas não é só a<br />

<strong>do</strong>ença. Tem o dinheiro deles meti<strong>do</strong> nisso. Eles não vão deixar simplesmente pra lá. Vão<br />

mandar Exército, Marinha e Aeronáutica para acabar com essa gente violenta e<br />

transformada.<br />

— Pelas contas <strong>do</strong> <strong>do</strong>utor Elias essa gente transformada passa <strong>do</strong>s milhões na Grande<br />

São Paulo, tenente Almeida. Se isso está acontecen<strong>do</strong> no Brasil to<strong>do</strong>, e eu acho que está,<br />

quan<strong>do</strong> o Exército acabar de varrer da face da Terra toda essa gente, o que vai sobrar?<br />

— Volto a dizer, os grandões, políticos, banqueiros e industriais não vão deixar isso<br />

barato, Cássio. Vão dar um jeito de curar essa gente. Vão inventar alguma coisa.<br />

— Onde eles estão agora então? Fazen<strong>do</strong> o quê?<br />

— Estão montan<strong>do</strong> um plano, por certo. Meu alto coman<strong>do</strong> foi chama<strong>do</strong> e leva<strong>do</strong> a<br />

Brasília em helicópteros e jatos da Aeronáutica. Acho que chamaram também o coman<strong>do</strong><br />

da Polícia Militar. Eles já estão mexen<strong>do</strong> os pauzinhos.<br />

Cássio não respondeu. A única coisa que tinha visto o Ministério da Defesa fazer era<br />

prometer matar quem estivesse nas ruas depois <strong>do</strong> pôr <strong>do</strong> sol. Alguma coisa dizia a ele<br />

que aquela situação ia se prolongar por um bom tempo. Não era à toa que estava<br />

juntan<strong>do</strong> toda aquela gente. O mun<strong>do</strong> nunca mais seria o mesmo.<br />

— Bem, agora estamos aqui — continuou o tenente. — Vamos colocar essa gente<br />

para se ocupar e preparar um bom almoço para quem vem chegan<strong>do</strong>.<br />

— Temos que montar um comitê provisório que cuide disso, alimento, alocação de<br />

pessoas, estoque das provisões.<br />

— Concor<strong>do</strong>.<br />

— Já nós <strong>do</strong>is, tenente, não teremos descanso tão ce<strong>do</strong>. Vou destacar meu pessoal<br />

para reabastecer três desses ônibus e vou voltar imediatamente para São Paulo. Preciso<br />

encontrar minha irmã e meus sobrinhos que ainda estão desapareci<strong>do</strong>s. Não vou ter<br />

descanso enquanto não tiver notícias da minha família.<br />

— Vai montar um destacamento para procurar sua família?<br />

Cássio sentiu o gosto amargo <strong>do</strong> comentário.<br />

— Essa noite, tenente, salvamos milhares de vidas. Deixei tu<strong>do</strong> para trás para salvar<br />

essas pessoas que estavam nas Clínicas. Hoje eu vou salvar minha família, sim.<br />

— Eu invejo sua determinação, camarada. Essa gente não podia ter acha<strong>do</strong> um<br />

guardião melhor. Invejo sua vontade de encontrar sua irmã.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!