19.04.2013 Views

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Dolores não conseguiu completar a frase, sen<strong>do</strong> alcançada por Everal<strong>do</strong>, que apanhou<br />

o lampião de gás, levan<strong>do</strong> a luz com ele. A mulher seguiu o colega <strong>do</strong> pai através da<br />

porta, com me<strong>do</strong> <strong>do</strong> escuro e de algo também ter aconteci<strong>do</strong> com a mãe.<br />

O homem abriu a porta, e a luz banhou o quarto revelan<strong>do</strong> o corpo da mulher, na<br />

cama, coberto por um fino lençol. Dona Rosário tinha os seus cinquenta e cinco anos,<br />

algo mais, algo menos, sen<strong>do</strong> ainda uma mulher muito bonita e de corpo bem feito.<br />

Lembrava de Medeiros comentan<strong>do</strong> no trabalho que a esposa vivia na academia para<br />

tentar manter as pernas firmes para ele não ficar secan<strong>do</strong> as menininhas <strong>do</strong> con<strong>do</strong>mínio.<br />

Everal<strong>do</strong> ouvia a respiração de Dolores às suas costas, quase colada à sua pele. O pequeno<br />

Rian soltou um balbucio de bebê, brincan<strong>do</strong> com a mão no ar tentan<strong>do</strong> apanhar o<br />

lampião ergui<strong>do</strong>. As cortinas balançavam ao sabor <strong>do</strong> vento, e a luz prateada da lua<br />

entrava pela fresta aberta da janela.<br />

— Everal<strong>do</strong>! Eu fechei essa janela também.<br />

Aproximaram-se pé ante pé da mulher a<strong>do</strong>rmecida, estranhan<strong>do</strong> o episódio das<br />

janelas. Cachorros <strong>do</strong> mato não abriam janelas. Alguém tinha aberto aquela.<br />

Everal<strong>do</strong> encontrou o mesmo rastro de sangue sain<strong>do</strong> da cama e in<strong>do</strong> até o batente de<br />

madeira. Ficou olhan<strong>do</strong> para aquele rastro enquanto Dolores começava de novo a<br />

choramingar. Dona Rosário tinha uma ferida parecida com a de Isis em seu pescoço.<br />

Tinha menos sangue no colchão e ela sangrava discretamente, mas o suficiente para<br />

Dolores dar início a gritos apavora<strong>do</strong>s, agarran<strong>do</strong> ainda mais o filho.<br />

— O que está acontecen<strong>do</strong> aqui, Everal<strong>do</strong>? O que é isso?<br />

Everal<strong>do</strong> fechou a janela e passou o trinco.<br />

— Não sei, Isis. Não sei — disse, transtorna<strong>do</strong>, olhan<strong>do</strong> para as sombras, temen<strong>do</strong><br />

encontrar aqueles olhos vermelhos mais uma vez. A lembrança das crianças atacan<strong>do</strong> a<br />

velha a poucos metros de sua casa assaltou-lhe a memória, uma recordação que estava<br />

a<strong>do</strong>rmecida, velada pelas seguidas <strong>do</strong>ses de uísque que tomara na madrugada. — Vamos<br />

fechar a casa.<br />

— E minha mãe?<br />

— Ela também foi ferida, mas não está sangran<strong>do</strong>. Deixe seu bebê aqui e me ajude.<br />

— Eu não vou soltar o Rian por nada, pode esquecer. Te aju<strong>do</strong> com ele no colo.<br />

— Então vem logo.<br />

Saíram pelo corre<strong>do</strong>r, assusta<strong>do</strong>s. Everal<strong>do</strong> não falou para Dolores de seu temor, de<br />

alguma daquelas pessoas transtornadas feito as crianças terem invadi<strong>do</strong> a chácara. Lá fora<br />

o breu era suaviza<strong>do</strong> pelos reflexos da lua, mas a noite instilava um absur<strong>do</strong> cheiro de<br />

me<strong>do</strong>. Trancou a porta da sala, carregan<strong>do</strong> o lampião e sua luz assombrada.<br />

— Tem porta na cozinha?

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!