19.04.2013 Views

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

ou talvez porque estivesse pasmo demais. Quan<strong>do</strong> outros condutores buzinaram no meio<br />

da confusão, Everal<strong>do</strong> engatou a marcha e saiu <strong>do</strong> meio da pista, encostan<strong>do</strong> o carro<br />

junto ao meio-fio. Respirava rápi<strong>do</strong>, assusta<strong>do</strong> com o quase acidente. E se a van estivesse<br />

cheia de crianças in<strong>do</strong> para o colégio?! Bateu a cabeça no volante. Não. Àquela hora elas<br />

já estariam na sala de aula. As crianças entravam às sete da matina para estudar. Mesmo<br />

assim, o motorista da van escolar era um irresponsável. Levantou o rosto e viu um<br />

homem caminhan<strong>do</strong> pela calçada, vin<strong>do</strong> em sua direção com as mãos erguidas, cobrin<strong>do</strong><br />

o rosto. Ele chorava e gritava. Quan<strong>do</strong> o homem viu seu carro, bateu no vidro, fazen<strong>do</strong><br />

Everal<strong>do</strong> ter outro sobressalto. Everal<strong>do</strong> arrancou com o carro. Aquele homem chorava<br />

sangue! O mun<strong>do</strong> tinha enlouqueci<strong>do</strong> naquela noite? Só podia ser isso. Seguiu direto<br />

para casa, sem parar, lançan<strong>do</strong> olhares assusta<strong>do</strong>s para o vidro <strong>do</strong> carona, agora com a<br />

marca <strong>do</strong>s de<strong>do</strong>s escorri<strong>do</strong>s <strong>do</strong> homem que chorava sangue. Era estranho, mas, apesar <strong>do</strong><br />

ar caótico que a manhã vinha vestin<strong>do</strong>, as ruas pareciam mais vazias <strong>do</strong> que o normal.<br />

Era como se fosse <strong>do</strong>mingo no centro de Foz, mas um <strong>do</strong>mingo salpica<strong>do</strong> de pesadelo.<br />

Passou por mais carros novos aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s. Contou <strong>do</strong>is caminhões e uns oito veículos<br />

de passeio até embicar em sua avenida. Parou em frente ao portão de sua casa e apanhou<br />

o controle remoto para acionar a abertura automática. Nada. Bateu o controle na palma<br />

da mão. Talvez a pilha estivesse fraca. Pressionou novamente o aparelho, e nada. Desceu<br />

<strong>do</strong> carro baten<strong>do</strong> a porta e olhou ao re<strong>do</strong>r. Olhou para as antenas de TV em cima das<br />

casas. Olhou para a grande antena repeti<strong>do</strong>ra de sinal de celular. As antenas estavam lá,<br />

onde sempre estiveram, mas as ondas de rádio pareciam ter evapora<strong>do</strong> <strong>do</strong> mapa. Era por<br />

esse inusita<strong>do</strong> fenômeno que seu portão não tinha aberto, que seu celular tinha para<strong>do</strong> de<br />

funcionar e que as TVs e estações de rádio estavam fora <strong>do</strong> ar. Havia algo acontecen<strong>do</strong><br />

com as ondas de rádio. O homem destrancou o portão, deixan<strong>do</strong> o carro estaciona<strong>do</strong> na<br />

calçada, entrou em casa baten<strong>do</strong> a porta e bufan<strong>do</strong>. Soltou os botões da camisa, como<br />

sempre fazia, e foi para a cozinha, como sempre fazia, tomar <strong>do</strong>is comprimi<strong>do</strong>s de<br />

Maracujina. O aroma de café enchia o ambiente de forma deliciosa. Apanhou uma xícara<br />

e encheu até a metade com o líqui<strong>do</strong> preto. Quatro gotinhas de aspartame. Com a xícara<br />

em punho an<strong>do</strong>u até o meio <strong>do</strong> carpete da sala. Olhou para a tela negra da TV de<br />

plasma, último presente de aniversário da sogra. Pressionou o botão lateral para ligar a<br />

TV, ignoran<strong>do</strong> o controle remoto que não funcionaria. A tela acendeu e chuviscou.<br />

Nada. Desligou a TV. A casa estava silenciosa demais.<br />

— Isis?<br />

Foi beberican<strong>do</strong> o café quente até a porta <strong>do</strong> quarto. A<strong>do</strong>rava aquela máquina de café<br />

automática, programada para fazer café pontualmente às oito e vinte da manhã, tempo<br />

mais que suficiente para ele chegar, descer <strong>do</strong> carro e pegar a primeira xícara quentinha,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!