19.04.2013 Views

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

costas e virou-se, recostan<strong>do</strong>-se à parede de azulejos, olhan<strong>do</strong> para as dezenas de portas<br />

que tremiam com as pancadas.<br />

— Estamos mortos? — perguntou o vampiro para a mulher.<br />

Ela voltou a sorrir e balançou a cabeça em sinal positivo.<br />

Boris levou as mãos ao rosto. Tremia. O som das pancadas contra as portas das<br />

gavetas estouran<strong>do</strong> em seus ouvi<strong>do</strong>s. A mulher calada aproximou-se de uma delas e a<br />

abriu. Levou alguns segun<strong>do</strong>s para um senhor surgir, com os braços atravessan<strong>do</strong> o saco<br />

plástico, empurran<strong>do</strong> sua gaveta para fora. Boris correu dali. Aquilo só podia ser um<br />

pesadelo. Os mortos estavam sen<strong>do</strong> vomita<strong>do</strong>s das entranhas da morte, sen<strong>do</strong> devolvi<strong>do</strong>s<br />

à vida, sem que a vida habitasse seus corpos. Boris não sabia o que ele era. Só sabia de<br />

duas coisas. Tinha frio e buscaria seu uniforme. E tinha sede. Muita sede.<br />

Depois <strong>do</strong> terceiro choque, Laerte se moveu. Abriu seus olhos e fechou o rosto numa<br />

expressão de zanga, grunhin<strong>do</strong> para o <strong>do</strong>utor.<br />

— Conseguimos, <strong>do</strong>utor! — felicitou a enfermeira Bárbara.<br />

— É — disse <strong>do</strong>utor Otávio, não muito convicto.<br />

O médico olhou para o monitor. Não havia batimentos cardíacos, não havia<br />

oxigenação sanguínea. Era como se Laerte continuasse morto, mas agora com os olhos<br />

abertos e rosnan<strong>do</strong> para ele. Os alarmes estavam dispara<strong>do</strong>s, no entanto, o corpo<br />

contradizia o equipamento.<br />

— Vocês não conseguiram nada, sua vaca! — gritou Laerte.<br />

Bárbara olhou para o médico.<br />

— Eu ainda estou morto. Vem. Põe a mão no peito. Vê se meu coração bate. Põe a<br />

mão no meu pau, sua vaca, vê se ele pulsa.<br />

— Doutor?<br />

Otávio olhou para os outros leitos. Os outros <strong>do</strong>is monitores também tinham os<br />

alarmes dispara<strong>do</strong>s. O médico cirurgião preso ao leito também se movia enquanto o<br />

monitor exibia uma linha contínua, sem batimentos. Otávio aproximou-se de Laerte e<br />

apertou sua carótida. Sem pulso. Retirou a mão assusta<strong>do</strong>. Não podia ser. Não podia.<br />

Aquele homem estava gela<strong>do</strong>, páli<strong>do</strong> e sem batimentos cardíacos.<br />

— Vocês estão perdi<strong>do</strong>s. Sabem por quê?<br />

Nem a enfermeira nem o <strong>do</strong>utor responderam, limitan<strong>do</strong>-se a se afastar <strong>do</strong> leito de<br />

Laerte, seguin<strong>do</strong> em direção à porta.<br />

— Porque se eu estou morren<strong>do</strong> de sede, imagine os outros que estão aqui há mais<br />

dias!<br />

— Vem! — exclamou o médico, puxan<strong>do</strong> a enfermeira.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!