19.04.2013 Views

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O leão de chácara baixou o refrigerante e tapou o nariz. O cheiro da mulher era<br />

insuportável.<br />

— Para com isso, Renata. Coloca sua blusa! — bra<strong>do</strong>u o mari<strong>do</strong> irrita<strong>do</strong>, abaixan<strong>do</strong>se<br />

para apanhar a blusa da mulher.<br />

Nesse instante ela emitiu um rosna<strong>do</strong> e seus olhos ficaram vermelhos, fazen<strong>do</strong><br />

Amintas arrepiar-se <strong>do</strong>s pés à cabeça, como se uma enguia subisse por suas costas. Ela<br />

atracou-se com o homem abaixa<strong>do</strong> no chão, morden<strong>do</strong> o seu ombro. Na hora Amintas<br />

lembrou-se da história <strong>do</strong> vizinho Paulo atacan<strong>do</strong> sua mãe e sua esposa. As pessoas<br />

estavam enlouquecen<strong>do</strong>. Logo os outros homens que discutiam juntaram-se ao casal que<br />

rolava no chão, o homem gritan<strong>do</strong>.<br />

— Que que é isso, Adão? — gritou um deles.<br />

— A Renata tá <strong>do</strong>ida de novo! — exclamou ele, erguen<strong>do</strong> a cabeça da esposa,<br />

evitan<strong>do</strong> suas mordidas.<br />

Foi preciso cinco homens para segurar a mulher. Terminaram amarran<strong>do</strong>-a e<br />

colocan<strong>do</strong>-a no porta-malas da picape, enquanto ela gritava, vítima de um surto<br />

psicótico. Amintas foi captura<strong>do</strong> por aquela imagem e por aquele cheiro horrível. Era<br />

como se a mulher estivesse podre por dentro. Olhou para seu carro, a fila já tinha<br />

anda<strong>do</strong>. Empurrou o Chevette para mais perto da bomba e, vinte minutos depois,<br />

finalmente chegava a sua vez. Enquanto seu carro era abasteci<strong>do</strong>, Amintas lembrava <strong>do</strong>s<br />

olhos da mulher e <strong>do</strong>s seus dentes pontiagu<strong>do</strong>s. O que teria aconteci<strong>do</strong> com ela? Seria<br />

essa a mesma loucura que tinha toma<strong>do</strong> a cabeça <strong>do</strong> seu Paulo? Amintas fechou os olhos<br />

recordan<strong>do</strong> das grossas gotas de sangue que caíam <strong>do</strong> ombro feri<strong>do</strong> <strong>do</strong> mari<strong>do</strong> da louca.<br />

Benzia-se quan<strong>do</strong> o rapaz parou em sua janela.<br />

— Noventa reais, senhor.<br />

Amintas pagou com duas de cinquenta e ficou esperan<strong>do</strong> o troco, olhan<strong>do</strong> para o<br />

posto e para a fila de carros atrás <strong>do</strong> seu, carros cheios de malas e trouxas nos bagageiros<br />

e em seus interiores. Olhou para a frente <strong>do</strong> bar, agora vazio. O motorista da picape e os<br />

outros tinham segui<strong>do</strong> para o litoral. Amintas estava determina<strong>do</strong> a continuar ruman<strong>do</strong><br />

para o sul. Brasília. Lá conseguiria respostas para essa loucura. Apanhou os dez reais de<br />

troco e olhou para o crucifixo pendura<strong>do</strong> em seu retrovisor.<br />

— Quer que eu dê uma olhada na água e no óleo, senhor?<br />

— Não precisa, não, amigo. Não precisa.<br />

O leão de chácara pisou no acelera<strong>do</strong>r, deixan<strong>do</strong> o posto de combustível para trás.<br />

Amintas tinha dirigi<strong>do</strong> por mais duas horas e então o sono atrasa<strong>do</strong> cobrava o seu<br />

preço. Ele não aguentava mais. Precisava ao menos cochilar. O sol tinha se levanta<strong>do</strong> e

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!