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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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homem desconheci<strong>do</strong> e assombrou-se. Ele não estava ali. Girou sobre os pés, procuran<strong>do</strong><br />

qualquer sinal dele. Nada. Seu estômago virou uma pedra, e o coração disparou. Foi para<br />

o meio da avenida. Via dezenas de pessoas passan<strong>do</strong>, um homem ou outro de terno e<br />

gravata, mas ninguém <strong>do</strong> porte <strong>do</strong> sujeito, alto, gor<strong>do</strong>, forte. Olhou para o chão<br />

novamente, seus olhos poderiam estar lhe pregan<strong>do</strong> uma peça, mas não. Ele tinha<br />

sumi<strong>do</strong>! Aproximou-se <strong>do</strong> lugar onde ele caiu. Um trilho de sangue ia em direção ao<br />

meio da avenida. Estava escuro, contu<strong>do</strong>, Cássio percebeu que o rastro de sangue chegava<br />

ao canteiro central da Santos Dumont e então, num relance, viu o gordão pulan<strong>do</strong> da<br />

calçada e se agarran<strong>do</strong> ao alambra<strong>do</strong> da base aérea <strong>do</strong> Campo de Marte. Com uma<br />

agilidade que não condizia com seu porte físico, pulou para o outro la<strong>do</strong>. Cássio cogitou<br />

segui-lo, mas no instante seguinte já estava caminhan<strong>do</strong> rapidamente no meio da avenida.<br />

Ainda estava longe de casa, era noite, não havia transporte público, nada que atalhasse<br />

seu caminho até o reencontro com a irmã. Aquele sujeito tinha si<strong>do</strong> a prova definitiva de<br />

que o mun<strong>do</strong> to<strong>do</strong> estava esfarelan<strong>do</strong>. Precisava reencontrar Alessandra e seus sobrinhos.<br />

Eles poderiam estar agora frente a frente com alguém daquele mesmo jeito. Os carros<br />

que passavam vez ou outra eram parcos e lota<strong>do</strong>s de passageiros apanha<strong>do</strong>s no meio <strong>do</strong><br />

caminho, pensou até em meter a pistola na frente de um motorista e exigir uma carona.<br />

Seu senso moral e “caxias” não permitia tamanho desatino. Conseguiria caminhar, tinha<br />

que controlar a ansiedade. Sua irmã não era uma idiota, saberia muito bem defender os<br />

filhos até que ele estivesse lá e desse uma solução naquele imbróglio. Ela sabia muito<br />

bem onde estava o .38 e a munição que ele tinha deixa<strong>do</strong> escondi<strong>do</strong> para ela. O coração<br />

batia forte, sua cabeça era só um tum-tum <strong>do</strong>lori<strong>do</strong>, pressionada pelos pensamentos<br />

fragmenta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> dia. Confusão. O sargento cobrava-se um pouco de sanidade e<br />

racionalidade, mas estava sen<strong>do</strong> difícil manter-se racional ten<strong>do</strong> visto o que acabara de<br />

ver. Era ele o porto-seguro da casa, era para ele que os amigos de trabalho apontavam<br />

quan<strong>do</strong> queriam a opinião de alguém sensato. Cássio mordeu os lábios e até sorriu nesse<br />

instante. Seria demais até mesmo para ele, o senhor cuca-fresca, estar de boa numa noite<br />

maldita como aquela. Revisou o dia, de começo ordinário, com a queixa comum de<br />

levantar ce<strong>do</strong>, com a caminhada curta até o ponto de ônibus; daí começaram as caras<br />

cheias de preocupação, o prenúncio de coisas estranhas acontecen<strong>do</strong> ao seu re<strong>do</strong>r. O<br />

centro da cidade num caos absoluto, to<strong>do</strong>s os meios de comunicação fora <strong>do</strong> ar,<br />

contribuin<strong>do</strong> para a crescente sensação de insegurança e baderna. Agora aquilo, um<br />

homem que, até que se provasse o contrário, era um vampiro, um vampiro com dente e<br />

tu<strong>do</strong> e que tinha escapa<strong>do</strong> depois de tomar um tiro no coração. Acharia fabuloso, não<br />

fosse tétrico.<br />

Depois <strong>do</strong> insólito encontro com o vampiro as sombras tinham ganha<strong>do</strong> outra

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