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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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olhar o mari<strong>do</strong> dela.<br />

— Hum, não sabia que eu andava <strong>do</strong> la<strong>do</strong> de um assassino nobilíssimo. Me desculpe.<br />

Jessé lançou um olhar esgazea<strong>do</strong> e sorriu de canto de boca.<br />

— Sem graça. Não somos assassinos, sabia?<br />

— Fala isso pro meu irmão morto no meu apartamento.<br />

— É justamente essa nova realidade que vai demorar a entrar na cabeça <strong>do</strong>s nossos e<br />

vai fazer com que os que não a aceitam sofram sobremaneira. Nosso tipo de comida<br />

mu<strong>do</strong>u depois da primeira noite em que essa <strong>do</strong>ença chegou. Nós agora não nos<br />

alimentamos de qualquer coisa. Nós nos alimentamos de vida, de sangue. Não somos<br />

assassinos, e fim de papo.<br />

— Acho que você já me disse isso.<br />

— E vou repetir até que esse peso saia <strong>do</strong> seu peito.<br />

Jessé avançou pelo corre<strong>do</strong>r da UTI, adentran<strong>do</strong> os quartos, procuran<strong>do</strong> pelo velho<br />

Tomaz.<br />

— Ainda é difícil de acreditar. Foi repentino demais. Surreal demais.<br />

— A luz <strong>do</strong> sol me deixou bem irrita<strong>do</strong> essa manhã. Só consegui sair <strong>do</strong> apartamento<br />

depois <strong>do</strong> poente, acredita?<br />

— Claro. Comigo foi igualzinho.<br />

— Será que, como os vampiros das lendas, a gente também morre no sol?<br />

Ludmyla deu de ombros.<br />

— Se for assim eu vou sofrer um boca<strong>do</strong>. Eu simplesmente amo praia. Amo o sol.<br />

Continuaram caminhan<strong>do</strong> pelos corre<strong>do</strong>res enquanto conversavam.<br />

— Eu já não vou sofrer tanto. Vivia enfurna<strong>do</strong> no cubículo da firma onde trabalhava.<br />

Mal via o sol. Mal via minha vida. Trabalhava, pagava as contas, comia umas putas e<br />

juntava dinheiro.<br />

— Juntava dinheiro para quê?<br />

— Isso já não é da sua conta. O que pesa mesmo é que tu<strong>do</strong> mu<strong>do</strong>u.<br />

— Tu<strong>do</strong> mu<strong>do</strong>u é meio que um eufemismo, não é, não, Jessé?<br />

Jessé sorriu para a noturna. Eufemismo era uma palavra que não escutava to<strong>do</strong>s os<br />

dias.<br />

— Apesar de você estar certa, eu acho que você ainda não entendeu o quanto tu<strong>do</strong><br />

mu<strong>do</strong>u, Ludmyla. Tu<strong>do</strong> mu<strong>do</strong>u.<br />

— A cidade mu<strong>do</strong>u, as pessoas a<strong>do</strong>rmeceram, outras viraram isso aqui que somos<br />

agora. É níti<strong>do</strong> que tu<strong>do</strong> mu<strong>do</strong>u — retrucou a jovem.<br />

— Mas tem uma coisa que você não colocou na sua lista e que para mim é, de longe,<br />

a mudança mais significativa.

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