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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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CAPÍTULO 28<br />

O tenente Douglas Obe estava no seu segun<strong>do</strong> dia de serviço. A noite tinha si<strong>do</strong><br />

terrível, e a chegada <strong>do</strong> sol trazia um código que ele tinha demora<strong>do</strong> para decifrar. A luz<br />

<strong>do</strong> sol entran<strong>do</strong> pelo quartel e lavan<strong>do</strong> o asfalto irradiava um pouco de paz. Era isso.<br />

Paz. As colunas de fumaça continuavam rasgan<strong>do</strong> o céu da capital e sussurravam em seu<br />

ouvi<strong>do</strong> que não havia mais o que fazer. Se a cidade não voltasse ao normal, se seus<br />

solda<strong>do</strong>s não voltassem ao trabalho, se o rádio não voltasse a funcionar, estaria tu<strong>do</strong><br />

acaba<strong>do</strong>. O fogo ia se espalhar e devorar cada prédio da capital. E não era essa certeza<br />

que consumia sua alma. Sua alma estava dividida entre sua casa e o Hospital das Clínicas,<br />

onde tinha deixa<strong>do</strong> o amigo Boris depois da crise respiratória que o levara a um coma<br />

profun<strong>do</strong>. Durante a noite Douglas e sua equipe socorreram duas grandes ocorrências na<br />

região <strong>do</strong> centro, debelan<strong>do</strong> o fogo que consumia <strong>do</strong>is prédios residenciais. Os populares<br />

tinham se mobiliza<strong>do</strong> no segun<strong>do</strong> endereço, combaten<strong>do</strong> com os próprios meios o<br />

incêndio que destruía o prédio onde moravam. As pessoas não queriam assistir<br />

impassíveis ao fogo levar embora to<strong>do</strong> o patrimônio que possuíam. Sabiam que a cidade<br />

corria fora <strong>do</strong>s trilhos e que ajuda alguma chegaria até seus lares em chamas. Lutaram e,<br />

em alguns casos, venceram as chamas. A ideia de civis combaten<strong>do</strong> o incêndio seria<br />

reprovada de imediato pelo tenente, contu<strong>do</strong>, durante todas aquelas horas de loucura,<br />

essa parecia ser a única saída razoável para aquelas pessoas não perderem seu patrimônio.<br />

Seus homens voltaram cansa<strong>do</strong>s e abati<strong>do</strong>s, derrota<strong>do</strong>s de uma forma que ele nunca tinha<br />

visto. Além das chamas <strong>do</strong> dia a dia, esses homens tinha chega<strong>do</strong> ao quartel verga<strong>do</strong>s pelo<br />

peso da preocupação. Um inimigo invisível, escondi<strong>do</strong> no me<strong>do</strong> que transitava na cabeça<br />

de cada um, rondava entre os solda<strong>do</strong>s, espreitan<strong>do</strong>, aguardan<strong>do</strong> a menor fraqueza para<br />

atacar. A incerteza era o oxigênio desse novo inimigo, a falta de informação, a falta de<br />

esperança de ver tu<strong>do</strong> voltan<strong>do</strong> aos trilhos era o seu alimento. Alguma coisa tinha bati<strong>do</strong><br />

forte naqueles homens no meio daquela noite, uma coisa que aumentava a eloquência das<br />

colunas de fumaça, forman<strong>do</strong> coro com o lamento <strong>do</strong>s que carregavam seus parentes<br />

desacorda<strong>do</strong>s e chamava a atenção para os que tinham a<strong>do</strong>eci<strong>do</strong> de uma hora para a<br />

outra. A <strong>do</strong>ença que deixava as pessoas perturbadas e agressivas, perigosas e irracionais.<br />

Tu<strong>do</strong> está perdi<strong>do</strong>. Era isso que a voz cuspia nos ouvi<strong>do</strong>s daqueles combatentes. Tu<strong>do</strong><br />

está perdi<strong>do</strong>. Eles se encurvaram, acua<strong>do</strong>s, e Douglas sentiu um frio no estômago ao<br />

perceber que na maioria deles o me<strong>do</strong>, em alguns latente, em outros, flagrante, tinha<br />

cava<strong>do</strong> trincheiras e os debilita<strong>do</strong>. Talvez o nome dessa fera que roía seu batalhão fosse

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