19.04.2013 Views

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

o barulho da porta.<br />

Everal<strong>do</strong> correu até a varanda e girou a maçaneta. A porta não se moveu. Estava<br />

trancada! Sem pensar, deu duas ombradas contra a madeira. Nada. Desarvora<strong>do</strong> passou a<br />

mão pelo cabelo, queren<strong>do</strong> entender o que se passava.<br />

— O que foi, Everal<strong>do</strong>?<br />

— Está trancada.<br />

Dolores estava com a respiração tão pesada que arfava, balançan<strong>do</strong> o bebê.<br />

Everal<strong>do</strong> colocou o lampião no chão e se afastou para tomar impulso, chutan<strong>do</strong> a<br />

porta. A madeira era sólida, daquelas portas antigas, e tremeu no batente, mas não cedeu.<br />

— A da cozinha! — lembrou Dolores.<br />

Apanhan<strong>do</strong> o lampião contornaram a casa, e Everal<strong>do</strong> chutou a porta <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s. Era<br />

uma porta de alumínio que cedeu no terceiro golpe.<br />

— Fica perto de mim — sussurrou Everal<strong>do</strong>.<br />

Antes de passar para a sala o homem vasculhou uma das gavetas da cozinha,<br />

encontran<strong>do</strong> apenas garfos e facas de mesa.<br />

— Ali, embaixo da pia, é onde o meu pai guarda.<br />

Everal<strong>do</strong> abaixou-se em silêncio, olhan<strong>do</strong> para to<strong>do</strong>s os cantos. Abriu o armário e viu<br />

que Dolores lia sua mente. Facões de churrasco. Apanhou um com uma lâmina de trinta<br />

centímetros, cabo áspero de plástico e de aparência afiada, avançou para a sala.<br />

A casa silenciosa parecia desafiar aquele trio forma<strong>do</strong> pelo homem de olhos<br />

arregala<strong>do</strong>s, a viúva chorona e o pequeno órfão no colo da mãe. Cruzaram a sala, e<br />

depois a luz <strong>do</strong> lampião começou a abrir caminho, fenden<strong>do</strong> o manto escuro e revelan<strong>do</strong><br />

o corre<strong>do</strong>r até os quartos. Primeiro olharam o quarto onde repousava <strong>do</strong>na Rosário: ela<br />

estava imóvel, no mesmo lugar. Entraram no quarto. O cheiro da morte pairava no ar.<br />

Não havia mais ninguém. Everal<strong>do</strong>, seguran<strong>do</strong> a faca, viu que o peito da senhora ainda<br />

subia e descia vagarosamente, ela estava viva.<br />

Everal<strong>do</strong> fez um sinal para Dolores passar para o seu la<strong>do</strong>, e então voltou ao<br />

corre<strong>do</strong>r, com a enorme faca erguida. A porta <strong>do</strong> quarto de Isis aberta. Seu coração<br />

acelerava. Fosse o que fosse que estivesse dentro daquela casa e que tinha tranca<strong>do</strong> a<br />

porta como uma assombração, banin<strong>do</strong>-os para fora, estava lá, no quarto com sua esposa<br />

indefesa, sua esposa ferida. Seus pés pareciam pesar uma tonelada a cada passo, com<br />

me<strong>do</strong> <strong>do</strong> que descobriria depois daqueles três metros que o separavam da porta. Não<br />

sabia o que iria encontrar, só sabia que queria encontrar Isis viva. Viva. O amor da sua<br />

vida. Como tinha chega<strong>do</strong> naquele ponto, de acreditar em monstros e fantasmas no<br />

escuro? O lampião abriu o breu e Everal<strong>do</strong> estremeceu. A sombra em cima da cama,<br />

<strong>do</strong>brada sobre sua esposa, ganhou contornos com a luz amarela, o moletom, o tamanho,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!