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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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CAPÍTULO 33<br />

Por volta das duas da tarde a energia elétrica acabou em Foz <strong>do</strong> Iguaçu, deixan<strong>do</strong> as<br />

coisas piores <strong>do</strong> que já estavam. Por sorte, Everal<strong>do</strong> tinha desci<strong>do</strong> a mãe e o mari<strong>do</strong> de<br />

Dolores até seu carro para<strong>do</strong> no subsolo. A cidade, que amanhecera perturbada e fora <strong>do</strong>s<br />

eixos, tinha piora<strong>do</strong> ainda mais. Agora, os postos de gasolina estavam fecha<strong>do</strong>s e<br />

caminhões <strong>do</strong> Exército circulavam pelas ruas, isolan<strong>do</strong> bairros inteiros, gritan<strong>do</strong> pelo<br />

megafone que a população tinha que permanecer em casa. Um tipo de mensagem gravada<br />

circulava em caminhões de som escolta<strong>do</strong>s pelos solda<strong>do</strong>s, repetin<strong>do</strong> sem parar o mesmo<br />

alerta da<strong>do</strong> pelos solda<strong>do</strong>s de megafone. Não deveriam ir para hospitais nem sair de casa<br />

até que a ordem fosse restabelecida. Dolores e Everal<strong>do</strong> não queriam ficar mais em Foz<br />

<strong>do</strong> Iguaçu, não obedeceriam a gravação, seguiriam para a chácara da família da mulher,<br />

que ficava ao sul de Santa Helena. Por lá iriam se virar muito melhor <strong>do</strong> que no meio<br />

daquele cenário que começava a parecer o de guerra civil. Ainda mais sem energia, a<br />

noite seria um breu só. Everal<strong>do</strong> prendeu Vinícius, o mari<strong>do</strong> de Dolores, ao cinto de<br />

segurança no banco de trás, atrás <strong>do</strong> banco <strong>do</strong> motorista. Ao la<strong>do</strong> dele atou <strong>do</strong>na Rosário<br />

ao cinto <strong>do</strong> meio. Logo começou uma discussão com Dolores, a mulher deixou o<br />

pequeno Rian em seu colo enquanto, teimosamente, voltava para dentro <strong>do</strong> prédio. O<br />

bebê começou a chorar imediatamente diante <strong>do</strong> sumiço da mãe. Dolores queria pegar<br />

mais roupas para a criança e mais bugigangas para a viagem. A ideia não era fazer uma<br />

mudança, mas a mulher só faltava descer o apartamento inteiro para a garagem. Logo o<br />

porta-malas estaria cheio, e ainda faltava Everal<strong>do</strong> voltar até sua casa para apanhar a<br />

esposa. Pensava nisso quan<strong>do</strong> virou-se para o carro e sentiu um arrepio. Podia jurar que o<br />

mari<strong>do</strong> de Dolores tinha se mexi<strong>do</strong>. Foi se aproximan<strong>do</strong> devagar, pé ante pé,<br />

chacoalhan<strong>do</strong> o bebê em seu colo, imaginan<strong>do</strong> que era assim que se acalmava uma<br />

criança. O fato é que tinha deixa<strong>do</strong> Vinícius com a cabeça encostada no banco da frente,<br />

e agora o homem estava com a cabeça encostada no vidro da janela. Talvez Dolores<br />

tivesse mexi<strong>do</strong> com ele, mas que a impressão foi estranha, isso foi. Fora os resmungos <strong>do</strong><br />

bebê que parecia inconforma<strong>do</strong> com o sumiço da mãe, a garagem era um silêncio só.<br />

Everal<strong>do</strong> circun<strong>do</strong>u sua Parati olhan<strong>do</strong> para to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s. Em algum lugar água pingava<br />

de um cano, gotejan<strong>do</strong> numa poça. Um gato preto cruzava a garagem preguiçosamente,<br />

paran<strong>do</strong> para lamber a água. Não havia som de gente. As pessoas pareciam assustadas e<br />

trancadas em seus apartamentos.<br />

Quan<strong>do</strong> finalmente Dolores voltou, Everal<strong>do</strong> já estava senta<strong>do</strong> no banco <strong>do</strong>

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