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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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Nem to<strong>do</strong>s puseram as asinhas de fora, mas, <strong>do</strong> jeito que eles se contorcem e ficam<br />

durante a noite, não duvi<strong>do</strong> que vão ficar iguaizinhos aos mais violentos.<br />

— Funcionários também?<br />

— Também. Esse mal pegou to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, não escolhe, não. Não tem idade, desde<br />

bebês até os velhinhos. Vai dizer que não viu nenhum amigo seu assim? Pelo menos com<br />

os sintomas.<br />

“O Santos”, pensou Cássio. “O Santos está bem assim”.<br />

— Eu acho que tem muito mais gente afetada dessa maneira na cidade. Não é to<strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> que vem para o hospital. Imagine quanta gente não está assim, transformada, no<br />

meio desses prédios e casas? E se essa desgraça não for só aqui na capital? Se isso for no<br />

esta<strong>do</strong> inteiro?<br />

— Ou no Brasil inteiro — completou Cássio, involuntariamente.<br />

A mulher balançou a cabeça em sinal positivo.<br />

— Exato, policial. Exato. Pode ser no Brasil inteiro.<br />

Cássio olhou ao re<strong>do</strong>r novamente. Tanta gente. Mesmo assim, se pensasse em termos<br />

de capital, aquele aglomera<strong>do</strong> seria uma amostra microscópica <strong>do</strong> que estava<br />

acontecen<strong>do</strong> por aí. Sem os meios de comunicação operan<strong>do</strong>, era impossível saber o que<br />

acontecia no quarteirão debaixo, impossível precisar a amplitude daquela infecção. Só a<br />

cidade de São Paulo possuía uma população que passava <strong>do</strong>s dez milhões de habitantes;<br />

soma<strong>do</strong> à região metropolitana, esse número <strong>do</strong>brava. Cássio não tivera a oportunidade<br />

de respirar para tentar mensurar a proporção em que os cidadãos tinham si<strong>do</strong> afeta<strong>do</strong>s.<br />

Os a<strong>do</strong>rmeci<strong>do</strong>s eram muitos. Ao que parecia, pelo esvaziamento imediato das ruas,<br />

pelos depoimentos da<strong>do</strong>s por aqueles que encontrava, podia chutar que pelo menos trinta<br />

por cento das pessoas tinham si<strong>do</strong> apanhadas pelo sono. Só aí estava falan<strong>do</strong> de<br />

aproximadamente três milhões de pessoas apagadas na cidade. Pessoas que nem se davam<br />

conta <strong>do</strong> que acontecia ao seu re<strong>do</strong>r. Um número assombroso. Olhan<strong>do</strong> os poucos<br />

agressivos que tinha encontra<strong>do</strong> pelo caminho, se contasse que apenas cinco por cento da<br />

população da cidade estava tomada por aquele mal ferino, teriam coisa de quinhentos<br />

mil <strong>do</strong>entes. Não iria verbalizar o seu temor para aquela mulher. Não evitava assustá-la,<br />

evitava o ridículo de dizer o que pensava, que aquelas pessoas alteradas tinham se<br />

torna<strong>do</strong> vampiros suga<strong>do</strong>res de sangue. Quinhentos mil suga<strong>do</strong>res de sangue à solta. Não<br />

raro Cássio fazia parte <strong>do</strong> destacamento que guarnecia o estádio <strong>do</strong> Pacaembu, onde, nos<br />

briefings, era dito que as arquibancadas recebiam, em dias de jogos importantes,<br />

quarenta mil pessoas. Logo, o número que imaginava de vampiros à solta na cidade<br />

encheria mais de uma dúzia de Pacaembus.<br />

— Está tu<strong>do</strong> bem, policial? — perguntou a recepcionista, notan<strong>do</strong> o rosto

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