19.04.2013 Views

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

CAPÍTULO 55<br />

Suzana encontrou o <strong>do</strong>utor Tarso no meio da quadra <strong>do</strong> ginásio. Um homem com<br />

seus cinquenta e tantos anos, com um rosto de alguém que tinha si<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong> até o<br />

fim de suas energias, exibin<strong>do</strong> olhos fun<strong>do</strong>s e cansa<strong>do</strong>s, andan<strong>do</strong> com o corpo curva<strong>do</strong> e<br />

fazen<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> devagar. Até para dar respostas às pessoas apavoradas ao seu re<strong>do</strong>r o<br />

homem demorava.<br />

— Doutor Tarso, sou a <strong>do</strong>utora Suzana Bartes, diretora...<br />

— Das Clínicas. A <strong>do</strong>utora Margarete fala muito da senhora.<br />

— Sabe onde minha amiga está?<br />

— Desde aquela maldita noite ninguém sabe de mais ninguém, <strong>do</strong>utora —<br />

resmungou o homem, coçan<strong>do</strong> a cabeça e olhan<strong>do</strong> para os la<strong>do</strong>s. — Desculpe, preciso<br />

sentar um segun<strong>do</strong>, senão desmaio aqui na sua frente.<br />

O médico aproximou-se de uma cadeira <strong>do</strong>brável ao la<strong>do</strong> de uma ambulância parada<br />

na beira da quadra poliesportiva.<br />

Ikeda olhou ao re<strong>do</strong>r. Até que a ideia de se esconderem ali não era ruim. O ginásio<br />

permitiria uma defesa mais eficiente se aquelas criaturas atacassem, uma vez que era<br />

completamente fecha<strong>do</strong> e desprovi<strong>do</strong> de janelas visíveis ali da quadra. Notou que as<br />

pessoas estavam esparramadas pelas arquibancadas que circulavam a quadra. Pessoas<br />

muito parecidas com os integrantes <strong>do</strong> comboio. Eram pacientes incapacita<strong>do</strong>s de andar,<br />

parentes e a<strong>do</strong>rmeci<strong>do</strong>s. Notou poucos profissionais da saúde por ali. O ginásio sucumbia<br />

mansamente à penumbra, e ele encontrou meia dúzia de lampiões a gás sen<strong>do</strong> carrega<strong>do</strong>s<br />

por algumas pessoas. Um senhor de idade estava ao final da arquibancada, mexen<strong>do</strong> com<br />

um spot de luz.<br />

— Vocês foram ataca<strong>do</strong>s ontem? — inquiriu Suzana.<br />

— Vocês também? — perguntou um médico nada assombra<strong>do</strong>. — Eu bem que<br />

imaginei que isso estava acontecen<strong>do</strong> em to<strong>do</strong> lugar.<br />

— Vim falar com a minha amiga, mas, na falta dela, vejo que o senhor está no<br />

coman<strong>do</strong>.<br />

— Não que eu quisesse. As coisas foram acontecen<strong>do</strong>.<br />

— Estamos deixan<strong>do</strong> a cidade com os pacientes, <strong>do</strong>utor. Estamos in<strong>do</strong> para Itatinga,<br />

no interior <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>.<br />

Tarso levantou o rosto e ficou cala<strong>do</strong> por um segun<strong>do</strong> com a boca aberta. Agora ele<br />

estava espanta<strong>do</strong>.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!