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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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transtorna<strong>do</strong> <strong>do</strong> sargento.<br />

— Sim. Tu<strong>do</strong>.<br />

— Se a sua irmã for inteligente como você, aposto que ela está em casa, cuidan<strong>do</strong> de<br />

seus sobrinhos, esperan<strong>do</strong> as coisas melhorarem.<br />

“Cuidan<strong>do</strong> de meus sobrinhos e cercada por vampiros”, pensou Cássio.<br />

— Você não concorda?<br />

A pergunta da mulher tirou Cássio de outro momento de divagação.<br />

— Acho. A senhora tem razão. Obriga<strong>do</strong>.<br />

— Agora, caso queira procurá-la nos ambulatórios e no PS, fique à vontade, ninguém<br />

vai proibi-lo.<br />

Cássio recuou, meio tonto, meio perdi<strong>do</strong>. Aquilo, simplesmente, não podia estar<br />

acontecen<strong>do</strong>. Será que o problema de comunicação tinha alguma ligação com aquela<br />

gente <strong>do</strong>ente? Não podia ser mera coincidência a união dessa gente toda a<strong>do</strong>rmecen<strong>do</strong>,<br />

essa gente toda transtornada, atacan<strong>do</strong> uns aos outros e a queda <strong>do</strong>s meios de<br />

comunicação. Alguém tinha planeja<strong>do</strong> aquilo. Alguém tinha ataca<strong>do</strong> a cidade de São<br />

Paulo, e talvez o Brasil inteirinho estivesse pagan<strong>do</strong> o preço. O desejo de encontrar a<br />

irmã agora martelava sua cabeça. Começou a andar pelos corre<strong>do</strong>res <strong>do</strong> prédio de<br />

ambulatórios, onde havia bastante gente esparramada em to<strong>do</strong>s os andares, sentada em<br />

bancos e cadeiras e, na grande maioria, acomodada no chão, com parentes a<strong>do</strong>rmeci<strong>do</strong>s<br />

nos braços. Dessa vez Cássio não se deteve em observar os a<strong>do</strong>rmeci<strong>do</strong>s. Contou os que<br />

estavam amarra<strong>do</strong>s pelos punhos com as cintas plásticas cedidas pelo hospital. No andar<br />

térreo contou sessenta pessoas e, realmente, a idade e o sexo não faziam diferença. Notou<br />

uma garota, de no máximo vinte anos, passan<strong>do</strong> também pelos corre<strong>do</strong>res, com uma<br />

prancheta e um amontoa<strong>do</strong> de papel, distribuin<strong>do</strong> folhas impressas para as famílias que<br />

tinham parentes naquela situação. O hospital estava contan<strong>do</strong> os agressivos. Isso era um<br />

bom indicativo, significava que não era só ele, um sargento de cavalaria, que tinha<br />

percebi<strong>do</strong> o quão perigosos eram aqueles seres. Subiu um andar. Mais a<strong>do</strong>rmeci<strong>do</strong>s,<br />

muitos, e um boca<strong>do</strong> daqueles violentos. Igual aos a<strong>do</strong>rmeci<strong>do</strong>s, estavam imóveis, como<br />

mortos, de olhos cerra<strong>do</strong>s, com a pele bastante pálida. Nenhum deles próximo a janelas<br />

ou onde os raios de sol chegavam. Coincidência? Não, não era. Naquele andar Cássio<br />

ouviu choro. Havia gente em volta de um daqueles agressivos. Dois funcionários <strong>do</strong><br />

hospital colocavam uma senhora que aparentava ter uns setenta anos em cima de uma<br />

maca. O funcionário soltou a cinta plástica, desatan<strong>do</strong> seus braços, que não se moveram,<br />

permanecen<strong>do</strong> na mesma posição, como que ainda presos. Cássio entendeu. Era rigor<br />

mortis. A velha tinha empacota<strong>do</strong>. Uma médica ou residente estava com um estetoscópio<br />

sobre o peito da mulher. Não precisava ser legista para saber que era um caso sem volta.

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