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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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assumi<strong>do</strong> durante a noite. Depois que amanheceu, muitos deles tinham se aquieta<strong>do</strong>, é o<br />

que diziam pelos corre<strong>do</strong>res, mas agora, com o sol cain<strong>do</strong> no horizonte, Corina já tinha<br />

cruza<strong>do</strong> com o olhar atravessa<strong>do</strong> de duas ou três pessoas, que começavam a se contorcer<br />

nas cadeiras de espera, voltan<strong>do</strong> de um torpor inexplicável para um esta<strong>do</strong> mental<br />

altera<strong>do</strong>, arredio. Os agressivos. Era assim que tinha ouvi<strong>do</strong> na rápida passagem pelas<br />

Clínicas. Talvez devesse voltar lá, sozinha, para ver se tinham mais informações. Passou<br />

para a maca da frente, agora alisan<strong>do</strong> o rosto <strong>do</strong> seu menino mais velho, Rafael, de<br />

dezoito anos, na flor da idade, consumi<strong>do</strong> por aquele mal que ninguém entendia. Será<br />

que o veria de olhos abertos novamente? Veria seu sorriso largo e ouviria sua voz grossa<br />

como a <strong>do</strong> pai? Rafael tocava violão todas as noites quan<strong>do</strong> chegava <strong>do</strong> cursinho. Queria<br />

ser engenheiro civil. Queria montar uma banda de rock e fazer shows igual ao Plantação.<br />

Para estádios lota<strong>do</strong>s. Queria vencer a timidez que às vezes travava sua voz quan<strong>do</strong> era o<br />

centro das atenções. Dizia que se estava com o violão não era assim. No momento em<br />

que cantava sua cabeça não pensava em nada, só na música. Agora os <strong>do</strong>is meninos já não<br />

brigavam a to<strong>do</strong> instante, tinham mais aquela coisa de um ficar sacanean<strong>do</strong> o outro, mas<br />

eram bons meninos, davam orgulho. Um dia Corina achou restos de maconha no quarto<br />

<strong>do</strong> filho. Perguntou se o rapaz estava fuman<strong>do</strong>. Rafael disse que tinha só experimenta<strong>do</strong><br />

e que aqueles restos no quarto eram dele, mas que não gostou e que não ia fumar mais.<br />

Corina acabou descobrin<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> no final, quan<strong>do</strong> apertou o Diego, o melhor amigo de<br />

Rafael. Diego disse que quem fumava os basea<strong>do</strong>s era a Magali, a menina de que o Rafael<br />

estava a fim. Ela às vezes fazia aquilo, pedia para o Rafael deixar ela fumar no quarto<br />

dele porque na casa dela nem pensar. O pai dela a mataria. Corina teve uma longa<br />

conversa com Rafael, sobre a vida, sobre a moral. Nada de comida de rabo nem<br />

moralismo hipócrita. O que tinha deixa<strong>do</strong> a mãe chateada e preocupada era a relação<br />

errada de Rafael com a menina de que ele gostava. Ela o tinha manipula<strong>do</strong>, esconden<strong>do</strong>se<br />

da família e in<strong>do</strong> fumar maconha na casa dele para não ser pega. Coisas que<br />

começavam assim muitas vezes não terminavam bem. Rafael ficou puto da vida,<br />

reclaman<strong>do</strong> <strong>do</strong> Diego e dizen<strong>do</strong> que não era nada daquilo. A Magali era só uma amiga<br />

que ele queria ajudar. Conversaram mais e mais e, no fim das contas, o assunto morreu.<br />

Corina nunca mais viu Magali por ali nem encontrou mais restos de maconha no quarto<br />

<strong>do</strong> filho. Não ficou paranoica e acreditava que, conversan<strong>do</strong>, tu<strong>do</strong> ia se ajeitar. Ela<br />

mesma já tinha experimenta<strong>do</strong> uma coisa ou outra na sua juventude e não tinha se<br />

perdi<strong>do</strong> na vida nem caí<strong>do</strong> na dependência química, o maior terror quan<strong>do</strong> se tem<br />

contato com entorpecentes. Rafael nasceu quan<strong>do</strong> ela tinha 28 anos. Os meninos eram<br />

fruto de seu primeiro casamento, com Everton, o seu amor da faculdade. Ficaram<br />

casa<strong>do</strong>s por oito anos, até que Everton perdeu o emprego e acabou se vician<strong>do</strong> em

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