19.04.2013 Views

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

tinha se fecha<strong>do</strong>, e o mun<strong>do</strong> retornava voraz, cobran<strong>do</strong> o preço de sua volta. O vazio. O<br />

choro desenfrea<strong>do</strong>. Raquel afundara os cabelos vermelhos no tampo da mesa e era<br />

assolada pela falta de Davi. Era hora de voltar e ser mãe de seus meninos. De estar com<br />

eles de verdade. Olhou mais uma vez para a fotografia <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>. Ele senta<strong>do</strong> na proa de<br />

um veleiro em Ilhabela. O mar. Para Davi era sempre o mar. Imenso, misterioso,<br />

benéfico e ameaça<strong>do</strong>r. Somente agora, cinco anos depois, sentia falta <strong>do</strong>s abraços, sentia<br />

falta <strong>do</strong> carinho e <strong>do</strong> som da risada de Davi em seus ouvi<strong>do</strong>s. Raquel secou as lágrimas<br />

<strong>do</strong> rosto e respirou fun<strong>do</strong>. Um sorriso largo brotou em sua boca, e então batidas na porta<br />

a içaram de volta à noite.<br />

— Entre.<br />

O agente Ricar<strong>do</strong> surgiu à porta olhan<strong>do</strong>-a por um segun<strong>do</strong> e então abriu um sorriso<br />

cúmplice.<br />

— Promotora, podemos descer agora?<br />

— Podemos, sim, Ricar<strong>do</strong>.<br />

Raquel colocou seu casaco e olhou para a repórter na TV, que começava a noticiar a<br />

conclusão <strong>do</strong> julgamento. Ela e o agente de Polícia Federal trocaram um olhar ligeiro,<br />

novamente carrega<strong>do</strong>s com o sorriso de vitória. Nesse instante a TV ficou com a tela<br />

negra, e então chuviscos tomaram a cena. Os <strong>do</strong>is ficaram para<strong>do</strong>s por alguns segun<strong>do</strong>s,<br />

até que Raquel se aproximou <strong>do</strong> aparelho e tentou trocar os canais. Nada. Tu<strong>do</strong> era<br />

estática. Um som vin<strong>do</strong> de fora fez com que os <strong>do</strong>is se sobressaltassem. Um barulho<br />

grave, como uma grande explosão, levou Raquel e o agente até a janela. Reflexo <strong>do</strong><br />

treinamento, Ricar<strong>do</strong> puxou a promotora da frente da vidraça e lançou um olhar rápi<strong>do</strong><br />

para fora, só então relaxan<strong>do</strong>. Fosse o que fosse, não tinha si<strong>do</strong> ali. Raquel voltou à<br />

frente <strong>do</strong> vidro e olhou para o portão onde estava a multidão. A iluminação pública<br />

deixava ver que muita gente ainda estava lá e que, na verdade, parecia que mais e mais<br />

estava chegan<strong>do</strong>. Algumas pessoas olhavam para o alto, como que procuran<strong>do</strong> a origem<br />

daquele barulho.<br />

— Parecia o som de um jato quebran<strong>do</strong> a barreira <strong>do</strong> som — murmurou o agente.<br />

Ricar<strong>do</strong> acionou o rádio, informan<strong>do</strong> que estava descen<strong>do</strong> com a pax. Era assim que<br />

chamavam Raquel em código no rádio. Pax. Como nenhuma resposta veio, Ricar<strong>do</strong><br />

tornou a falar pelo aparelho, solicitan<strong>do</strong> confirmação. Nada.<br />

Raquel atravessou a sala para pegar sua bolsa, fazen<strong>do</strong> seus passos estalarem por conta<br />

da bota de couro de salto alto. Tirou seu celular e discou o número de Pedro. No<br />

terceiro segun<strong>do</strong> de mutismo <strong>do</strong> telefone seu sangue enregelou nas veias. Nada. Olhou<br />

para o aparelho. Sem sinal. Quan<strong>do</strong> olhou para Ricar<strong>do</strong>, ele fazia a mesma coisa,<br />

conferia seu celular.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!