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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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por ela, por seus golpes insanos, até lambuzar-se em seu sangue. Depois voltaram ao<br />

silêncio. Cada um afunda<strong>do</strong> em seus pensamentos. Raquel queria os filhos. Reuni-los.<br />

Estariam juntos novamente. Seriam uma família novamente. Deixaria-os protegi<strong>do</strong>s.<br />

Agora não existia mais inimigo nem traficante nem bandi<strong>do</strong>s. Estavam to<strong>do</strong>s enreda<strong>do</strong>s<br />

naquela teia de caos, cada um lutan<strong>do</strong> para se manter a salvo e longe <strong>do</strong>s iguais. Seus<br />

filhos a aceitariam daquela forma? Aceitariam uma morta-viva como mãe? Raquel parou<br />

um segun<strong>do</strong> e ficou olhan<strong>do</strong> para a água negra que corria debaixo da passarela. Caberia a<br />

eles decidirem. Ela sabia que não tomaria o sangue das crias. Ela conhecia sua sede, louca<br />

e insana, mas sabia que jamais a apontaria para os filhos. Eles cresceriam, eles seriam<br />

lin<strong>do</strong>s e maravilhosos. Ela sempre seria aquela criatura fria, mas era seu papel protegê-los<br />

<strong>do</strong>s iguais. Ninguém poderia protegê-los como ela fazia, como uma mãe fazia. Uma mãe<br />

morta.<br />

Raquel e Ludmyla estacaram no meio <strong>do</strong> asfalto <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> <strong>do</strong> rio, quan<strong>do</strong> Jessé,<br />

repentinamente, parou. Estavam numa avenida larga que apontava para um viaduto que<br />

dava acesso ao centro de Osasco. À direita havia uma estação de trem, e era para lá que o<br />

vampiro olhava.<br />

A vampira ruiva se aproximou lentamente, olhan<strong>do</strong> também para a estação. Via<br />

alguns <strong>do</strong>s iguais andan<strong>do</strong> pelos trilhos, como cães estúpi<strong>do</strong>s, farejan<strong>do</strong> e procuran<strong>do</strong><br />

sangue quente para se alimentar. Um trem de carga estava para<strong>do</strong> na plataforma central,<br />

imóvel. Ao que parecia tinha si<strong>do</strong> aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong> ali.<br />

— O que está te chaman<strong>do</strong> a atenção?<br />

Jessé ficou cala<strong>do</strong> ainda por alguns instantes, para<strong>do</strong>, olhan<strong>do</strong> para a mesma direção.<br />

— Não sei. É como alguma coisa no meu ouvi<strong>do</strong>, me sopran<strong>do</strong>, me dizen<strong>do</strong> que ali<br />

tem alguma coisa importante.<br />

— O que ia ser importante pra você numa estação de trem, Jessé? — perguntou<br />

Ludymila, mais acostumada com as esquisitices <strong>do</strong> vizinho.<br />

Jessé virou-se para as duas.<br />

— Pra mim, nada. É algo importante para ela. Pra Raquel.<br />

— O que me importa são meus filhos, só isso.<br />

— Seus filhos estavam ali, no ginásio.<br />

— Estavam?<br />

— Eu... eu não man<strong>do</strong> nesses assopros, Raquel. A senhora tem que entender que esse<br />

mun<strong>do</strong> é novo para to<strong>do</strong>s nós.<br />

— Isso começou depois que ele tomou o sangue de um homem no Incor. Ficou<br />

<strong>do</strong>idão. Acho que o sangue <strong>do</strong> tio <strong>do</strong>ente é droga pra ele.<br />

Raquel virou e deixou os <strong>do</strong>is para trás, in<strong>do</strong> em direção ao ginásio. Era isso. Eles

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