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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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— Se você queria discrição, Ricar<strong>do</strong>, não deu certo — lançou Raquel, sorrin<strong>do</strong> para<br />

o agente.<br />

Ricar<strong>do</strong> devolveu o sorriso, olhan<strong>do</strong> para aquela multidão.<br />

— Bem, hoje é o seu dia, senhora. Hoje é o seu dia.<br />

— Nosso, Ricar<strong>do</strong>. Hoje é o nosso dia. Mais um crápula em cana dura.<br />

— É até emocionante ver toda essa gente celebran<strong>do</strong> a justiça. Coisa rara em nosso<br />

país.<br />

— Os tempos estão mudan<strong>do</strong>, meu amigo. A iniquidade vazou como rio, de forma<br />

tão poderosa no Brasil e tão escandalosa, que agora seu volume rompeu os próprios<br />

diques. Nem mesmo os engravata<strong>do</strong>s de Brasília serão poupa<strong>do</strong>s.<br />

— Deus te ouça, promotora. Dá vergonha viver num país governa<strong>do</strong> por corruptos.<br />

Precisamos de mais gente como a senhora nos tribunais.<br />

Um agente aproximou-se da janela da picape, fazen<strong>do</strong> um aceno para que parassem.<br />

Como era o Magalhães, um <strong>do</strong>s homens de confiança <strong>do</strong> grupo, Ricar<strong>do</strong> baixou o vidro.<br />

— O Urso Branco está sen<strong>do</strong> transferi<strong>do</strong> daqui neste momento — revelou Magalhães.<br />

— Por quê?<br />

— Os telefones caíram. Nem celular está funcionan<strong>do</strong>, nem rádio.<br />

— Isso já sabemos.<br />

— O juiz determinou que ele fosse leva<strong>do</strong> para o CDP de Pinheiros.<br />

— Não sei se concor<strong>do</strong> com isso, Magalhães — resmungou Ricar<strong>do</strong>. — Eu prefiro<br />

que ele seja manti<strong>do</strong> sob a custódia da Polícia Federal até que seja transferi<strong>do</strong> para o<br />

presídio.<br />

— Bem, a mim só resta obedecer — declarou o agente. — Até que achei a ideia boa.<br />

Os homens dele estão contan<strong>do</strong> que ele ficará sob nossa detenção.<br />

— Você estará nessa tarefa, Magalhães?<br />

— É claro, Ricar<strong>do</strong>. Depois de tanto tempo atrás desse verme, não ia deixá-lo escapar<br />

logo agora. Pode apostar.<br />

Raquel suspirou sem se juntar à discussão <strong>do</strong>s agentes, seus olhos derivaram para uma<br />

menina que estava sentada no ombro <strong>do</strong> pai, um homem forte e sorridente. Eles<br />

balançavam bandeirinhas verde-amarelas. Raquel sorriu de leve. To<strong>do</strong> aquele esforço<br />

parecia ter vali<strong>do</strong> a pena, no fim das contas. A população tinha se comovi<strong>do</strong> com sua<br />

história pessoal e, junto da sede de justiça <strong>do</strong> povo, todas as barreiras que surgiram no<br />

caminho foram sen<strong>do</strong> derrubadas por aquela força poderosa que emanava da população,<br />

força que por vezes ficava a<strong>do</strong>rmecida. To<strong>do</strong>s os cuida<strong>do</strong>s para manter um crápula como<br />

Djalma dentro <strong>do</strong> xadrez não seriam em vão. O agente deu passagem à picape de Ricar<strong>do</strong><br />

e da promotora, que voltou a rodar pela rua coalhada de gente.

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