19.04.2013 Views

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

— O que está acontecen<strong>do</strong>, <strong>do</strong>na?<br />

— Eles não deixam ninguém ir até o hospital.<br />

— Mas meu amigo está interna<strong>do</strong> lá.<br />

— Meu mari<strong>do</strong> também. Eles não deixam ninguém ir até o hospital, moço.<br />

— Eu vou falar com eles. Isso não está certo.<br />

Mal terminou a frase, Everal<strong>do</strong> sobressaltou-se com o som de trovões se repetin<strong>do</strong> e<br />

saltou para o chão, imitan<strong>do</strong> as pessoas ao re<strong>do</strong>r.<br />

Levantou a cabeça, tentan<strong>do</strong> entender o que acontecia. Não eram trovões. Eram os<br />

fuzis <strong>do</strong>s solda<strong>do</strong>s, agora fumegantes. Tinham aberto fogo contra a multidão que agora<br />

corria dali. Quatro corpos no chão, pessoas gemen<strong>do</strong> e se arrastan<strong>do</strong>, baleadas e<br />

sangran<strong>do</strong>.<br />

— Meu Deus! — espantou-se.<br />

Everal<strong>do</strong> virou-se para o la<strong>do</strong> da senhora que chorava. Ela estava caída, de olhos<br />

abertos e um buraco enorme na testa. Rastejou por três metros e então se levantou,<br />

corren<strong>do</strong> de volta ao carro.<br />

Dolores, ven<strong>do</strong> as pessoas corren<strong>do</strong> em direção ao veículo e se afastan<strong>do</strong> da<br />

barricada, estava estática e de olhos arregala<strong>do</strong>s.<br />

Everal<strong>do</strong> engatou marcha a ré e voltou para a esquina, engrenan<strong>do</strong> a primeira e<br />

fazen<strong>do</strong> os pneus cantarem quan<strong>do</strong> tomou a rua.<br />

— E o meu pai?<br />

— Você ouviu os tiros, Dolores? Ouviu?<br />

— Não tinha como não escutar, Everal<strong>do</strong>.<br />

— Eles fecharam a rua <strong>do</strong> hospital. Não dá pra chegar lá.<br />

Mais uma vez Dolores chorava.<br />

— Eu não vou aguentar isso, Everal<strong>do</strong>! Não vou aguentar! Eles atiraram nas pessoas.<br />

Isso não está certo!<br />

— Nada está certo, Dolores. Nada. O melhor que fazemos é sair daqui mesmo, por<br />

um tempo.<br />

As lágrimas já lavavam o rosto da mulher, que apertou o filho contra o peito,<br />

fazen<strong>do</strong> com que o bebê levantasse a mão até o queixo da mãe, imaginan<strong>do</strong> que ela o<br />

convidava para brincar.<br />

— O meu paizinho.<br />

— A gente volta, Dolores. A gente volta. Isso não pode ficar pior, uma hora as coisas<br />

se acalmam.<br />

O carro, um túmulo. Só parou novamente em frente à casa de Everal<strong>do</strong>, onde, com a<br />

ajuda de um cobertor, deitou o corpo da esposa e conseguiu puxá-la até o quintal. Ali a

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!