19.04.2013 Views

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Chevette.<br />

— Ceci, desce. Você vai ter que ficar com o sujeito por aqui.<br />

Amintas abriu a porta <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>do</strong> passageiro e desatou o cinto <strong>do</strong> homem<br />

desacorda<strong>do</strong>. Bufan<strong>do</strong> um pouco, tirou o sujeito <strong>do</strong> carro, depois ajeitou seu próprio<br />

corpo, firman<strong>do</strong> as pernas e as costas, agachan<strong>do</strong> e jogan<strong>do</strong> o cliente sobre o ombro.<br />

Ceci — que inclinava o banco da frente e descia, trajan<strong>do</strong> uma calça jeans<br />

agarradíssima às suas curvas delicadas, salto alto e uma blusa branca — arregalou os<br />

olhos.<br />

— Nossa, seu Amintas! É por isso que eu admiro o senhor! Dá de dez em muito<br />

molequinho que eu tenho que pegar lá no Cigana.<br />

Amintas gostava <strong>do</strong>s elogios das meninas <strong>do</strong> trabalho, sabia que era um senhor bem<br />

apanha<strong>do</strong> e ainda bastante forte, mas, subin<strong>do</strong> as escadas com um caboclo nas costas, não<br />

revelava a ninguém o quanto seus joelhos <strong>do</strong>íam e o quanto suas costas estariam <strong>do</strong>en<strong>do</strong><br />

ao anoitecer. Para um leão de chácara era bom que o imaginassem sempre como um titã,<br />

forte, bravo e destemi<strong>do</strong>. Dor nas juntas era para os fracos, pensava, rin<strong>do</strong> de si mesmo,<br />

galgan<strong>do</strong> um degrau por vez.<br />

Chegan<strong>do</strong> ao hall de entrada, um funcionário <strong>do</strong> hospital veio esbafori<strong>do</strong> interpelálos.<br />

— Não! Não estamos receben<strong>do</strong> mais ninguém desde o meio-dia.<br />

Amintas curvou-se e deixou o homem senta<strong>do</strong> no chão, à porta <strong>do</strong> hospital.<br />

— Como assim? Olha o esta<strong>do</strong> desse homem!<br />

— Não posso receber mais ninguém, senhor. O hospital lotou de manhã, essa gente<br />

que o senhor está ven<strong>do</strong> nos bancos está aqui desde a manhã. Não tem médico para to<strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong>. Precisa levá-lo para outro hospital.<br />

Amintas olhou para Quero-quero <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong>, recosta<strong>do</strong> à porta <strong>do</strong> hospital, com o<br />

corpo no chão frio.<br />

— Ouviu, Quero-quero? O senhor tem que ir para outro lugar — avisou.<br />

Amintas começou a descer a escada em direção ao carro.<br />

— Senhor! — gritou o funcionário. — O senhor não pode deixá-lo aqui!<br />

— Ué! Na hora que ele acordar manda ele ir para outro hospital.<br />

— Vou ligar para a polícia!<br />

— Pode ligar.<br />

Amintas e Ceci entraram no carro e partiram pela rua, deixan<strong>do</strong> um exalta<strong>do</strong><br />

atendente <strong>do</strong> hospital para<strong>do</strong> no meio <strong>do</strong> asfalto, com os braços ergui<strong>do</strong>s e praguejan<strong>do</strong>.<br />

Dentro <strong>do</strong> carro Ceci ria de cair lágrimas de seus olhos.<br />

— Seu Amintas! O senhor é <strong>do</strong>se!

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!