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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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— Então, não estamos com zero pacientes, calma, vou explicar. Naquela noite em<br />

que to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>rmiu, foi difícil perceber a princípio, mas muitos <strong>do</strong>s nossos<br />

pacientes também foram pegos pelo sono.<br />

— Quantos?<br />

— Quarenta e um.<br />

— Quase metade.<br />

— Isso mesmo, corroboran<strong>do</strong> o <strong>do</strong>utor Elias que aponta que metade da população da<br />

cidade foi apanhada pela singularidade.<br />

— Faz senti<strong>do</strong> você usar essa palavra, mas tenho que me acostumar a isso ainda.<br />

— Depois disso, na manhã seguinte, quinze pacientes apresentaram uma melhora<br />

significativa no quadro e receberam alta para quartos comuns. Eu tinha três pacientes<br />

queima<strong>do</strong>s, com lesões sérias, <strong>do</strong>is tinham evoluí<strong>do</strong> para um quadro de infecção<br />

generalizada e os órgãos começavam a apresentar falência, mas, a partir daquela noite, a<br />

infecção simplesmente desapareceu. Não vou dizer que eles evoluíram bem por conta da<br />

medicação. Não dava tempo. Foi um milagre, foi algo tão inespera<strong>do</strong> quanto surgir os<br />

a<strong>do</strong>rmeci<strong>do</strong>s ou surgir os agressivos, que agora estão chaman<strong>do</strong> de vampiros.<br />

Suzana ficou calada, olhan<strong>do</strong> para dentro <strong>do</strong> quarto da UTI através da janela de<br />

vidro. As enfermeiras administravam medicamento para seis pacientes.<br />

— O surgimento desses agressivos me levou a outro ponto. Depois daquela primeira<br />

noite, acho que na segunda noite, tínhamos aqui trinta pacientes, to<strong>do</strong>s apresentan<strong>do</strong><br />

melhora significativa, simplesmente como se seus corpos tivessem esqueci<strong>do</strong> o quão<br />

debilita<strong>do</strong>s estavam.<br />

— Como isso é possível, <strong>do</strong>utora Célia? Quem fez o acompanhamento disso?<br />

— Não tivemos muita folga para fazer um acompanhamento adequa<strong>do</strong> dessa<br />

singularidade, <strong>do</strong>utora. Mas nem tu<strong>do</strong> são flores.<br />

— Conte-me.<br />

— Na primeira noite após a singularidade percebemos que ao menos vinte de nossos<br />

trinta pacientes começaram a sentir cólicas e a passar mal. Apesar <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> geral ter<br />

melhora<strong>do</strong>, eles se apresentaram irritadiços, e pela manhã já tínhamos o protocolo <strong>do</strong>s<br />

agressivos. Eles foram removi<strong>do</strong>s daqui para ala onde os agressivos foram<br />

acondiciona<strong>do</strong>s. Nenhum deles apresentava déficit respiratório ou renal. Estavam estáveis<br />

hemodinamicamente, e, até certo ponto, bem.<br />

— Incrível.<br />

— Pois é. Acontece que esse fenômeno se deu nas UTIs das outras clínicas. Houve<br />

melhoras no Instituto da Criança, nos pacientes terminais, manti<strong>do</strong>s em tratamento<br />

paliativo por causa <strong>do</strong> avanço <strong>do</strong> dano no organismo, resumin<strong>do</strong>: pacientes <strong>do</strong>s quais não

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