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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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apaga<strong>do</strong> parecesse apenas <strong>do</strong>rmir placidamente, era bom não ficar à mercê da sorte.<br />

Amintas ligou o carro e, com a ajuda de Ceci, que tinha se vesti<strong>do</strong> e era a pessoa mais<br />

indicada para responder a qualquer pergunta que o médico fizesse, partiu para o prontosocorro.<br />

A madrugada ia alta, com poucos carros no caminho e muita gente<br />

perambulan<strong>do</strong> pelo centrão, onde se concentravam os bares e a bagunça da noite.<br />

Amintas chegou a parar o carro, ouvin<strong>do</strong> um grito aqui e ali. Quan<strong>do</strong> pararam num sinal<br />

vermelho, foi a vez de a garota de programa ser atraída por alguma situação.<br />

— Olha! O que é aquilo?<br />

Os olhos de Amintas seguiram o de<strong>do</strong> indica<strong>do</strong>r da mocinha. Um enorme clarão<br />

tomava a esquina duas ruas para cima na avenida.<br />

— Parece um incêndio.<br />

Toma<strong>do</strong> pela curiosidade, Amintas espichou o caminho para passar em frente ao<br />

clarão. Dois carros <strong>do</strong> Corpo de Bombeiros estavam lá, jogan<strong>do</strong> água num enorme prédio<br />

comercial. O vento forte fazia com que pedaços grandes de material em brasa voassem<br />

para os telha<strong>do</strong>s vizinhos. Se os bombeiros não agissem com rapidez, aquilo ia se<br />

transformar numa tragédia. Foi quan<strong>do</strong> diminuiu a velocidade perto da muvuca que o<br />

leão de chácara se deu conta de outra coisa peculiar. Viu duas pessoas a<strong>do</strong>rmecidas sen<strong>do</strong><br />

carregadas nos braços de amigos. Seriam vítimas <strong>do</strong> incêndio ou ébrios despenca<strong>do</strong>s num<br />

coma alcoólico muito pareci<strong>do</strong>s com o passageiro ao seu la<strong>do</strong>? Só saberia se descesse <strong>do</strong><br />

carro, e não estava muito disposto a fazer isso naquela hora. Queria deixar o sujeito e a<br />

garota de programa no hospital, voltar para o Cigana e esperar um par de horas até que<br />

pudesse se despedir de to<strong>do</strong>s e finalmente tomar o rumo de casa. Pensava nisso quan<strong>do</strong><br />

cruzou o novo quarteirão, virou para a direita e se deparou com um aglomera<strong>do</strong> de<br />

pessoas em frente a um mercadinho com as portas levantadas e sen<strong>do</strong> saquea<strong>do</strong>, enquanto<br />

línguas de fumaça negra saíam <strong>do</strong> fun<strong>do</strong> e labaredas alaranjadas iluminavam o céu. Era o<br />

segun<strong>do</strong> incêndio em questão de metros. Passou mais três quadras, <strong>do</strong>brou na avenida<br />

Nazaré e chegou no hospital, paran<strong>do</strong> o Chevette na calçada.<br />

— Espere aqui com ele, menina.<br />

Amintas atravessou a calçada e subiu um curto lance de escadas. Assim que entrou no<br />

saguão, travou no caminho. Aquilo era inespera<strong>do</strong>. Dezenas de pessoas estavam sentadas<br />

com desacorda<strong>do</strong>s ao seu la<strong>do</strong>. Havia choramingos, reclamações pela demora no<br />

atendimento e to<strong>do</strong> o tipo de imprecações daqueles que eram pegos de surpresa por um<br />

mal súbito na família. Gente com terço na mão, velhinhas fazen<strong>do</strong> o sinal da cruz, olhos<br />

vermelhos etc. Ven<strong>do</strong> um ban<strong>do</strong> de pessoas nervosas, apinhadas na recepção, nem perdeu<br />

tempo buscan<strong>do</strong> informações, an<strong>do</strong>u pelo saguão procuran<strong>do</strong> uma cadeira de rodas.<br />

Nada. Nem lugar em cadeiras comuns parecia ter. Saiu <strong>do</strong> hospital e desceu até o

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