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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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— Vamos esperar, Sardenta. Vamos esperar. Ninguém faz mais porra nenhuma sem<br />

falar com o Comandante. Já tô sentin<strong>do</strong> cheiro de merda nisso tu<strong>do</strong> — disparou o rapaz<br />

com voz de taquara rachada. — É foda esse negócio. É foda.<br />

Apesar de a voz ser a de um garoto, o apeli<strong>do</strong> “Cabeção” o apontava como o líder<br />

daquele grupo, estan<strong>do</strong> abaixo apenas <strong>do</strong> Comandante, este, sim, o braço direito <strong>do</strong><br />

Djalma. Com aquele novo nome revela<strong>do</strong>, agora eram três bandi<strong>do</strong>s conheci<strong>do</strong>s na sala<br />

ao la<strong>do</strong> e mais um que não tinha identifica<strong>do</strong>, e a terrível informação de que tinham<br />

assassina<strong>do</strong> seus filhos. O tremor em seu corpo se intensificou. Sardenta, Adilson e<br />

Cabeção. Raquel tremia. Sua atenção se concentrava na voz de Adilson, o assassino. Ele<br />

dissera que tinha “pica<strong>do</strong> fumo” nos seus filhos. Ele tinha executa<strong>do</strong> suas crianças.<br />

Raquel baixou a mão até o bloco de concreto e apanhou a faca. Era ele que ela queria<br />

matar primeiro. Adilson seria seu alvo principal. O homem que tinha acaba<strong>do</strong> com sua<br />

família. Jamais existiriam outros descendentes dela caminhan<strong>do</strong> por esse planeta. Jamais<br />

haveria descendentes dela e <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>. Estava tu<strong>do</strong> acaba<strong>do</strong>. Não tinha mais motivo<br />

algum para pensar em amor. Raquel era puro ódio bombea<strong>do</strong> nas veias. Sentia-se capaz<br />

de atravessar aquela parede de tijolos vermelhos com as unhas. Ela esgueirou-se em<br />

direção à porta. Era quase certo que estaria trancada. Teria que esperar nas sombras, no<br />

escuro. Controlar suas emoções para tirar o melhor proveito de cada chance de golpear.<br />

Mas era difícil esquecer a voz repetin<strong>do</strong> em sua cabeça “piquei fumo mesmo”. O choro<br />

desceu poderoso <strong>do</strong>s olhos da promotora. Imagens vinham involuntariamente. Ela via o<br />

pequeno Breno corren<strong>do</strong> e sen<strong>do</strong> atingi<strong>do</strong> por um disparo. Via Pedro, seu menino que<br />

estava viran<strong>do</strong> homem, com sangue cobrin<strong>do</strong> to<strong>do</strong> o seu peito e o seu rosto. Via o pavor<br />

no rosto <strong>do</strong> pequeno Breno, que chorava e chamava pela mamãe. Breno era <strong>do</strong>ce e<br />

mima<strong>do</strong>, o típico filho caçula que se aninha no colo da mãe quan<strong>do</strong> sabe que vem<br />

chumbo grosso pela frente. Mesmo depois de passar <strong>do</strong>s sete anos, continuava sen<strong>do</strong><br />

meigo e encanta<strong>do</strong>r, <strong>do</strong>no de um poder de observação que impressionava a mãe.<br />

Curiosamente foi Breno o primeiro a compreender a perda definitiva <strong>do</strong> pai, foi também<br />

o porto seguro de Raquel, quem primeiro a confortou com palavras leves e cheias de<br />

uma sabe<strong>do</strong>ria incomum para uma criança tão pequena. Um sábio aos seis anos. Fora no<br />

colo de Breno que Raquel afundara a cabeça e a cabeleira cor de fogo por horas a fio nos<br />

primeiros dias após o assassinato de Davi. Já Pedro tinha amadureci<strong>do</strong> uns dez anos em<br />

dez horas. Foi um <strong>do</strong>s que carregaram a alça <strong>do</strong> caixão <strong>do</strong> faleci<strong>do</strong>. Havia ti<strong>do</strong> um<br />

compreensível ataque de fúria, destruin<strong>do</strong> metade <strong>do</strong> quarto. Nessa hora, em que mãe e<br />

filho se agarraram no meio <strong>do</strong> quarto, ela furiosa, ele assusta<strong>do</strong>, sentaram-se em meio aos<br />

“escombros” e se apertaram com força enquanto lágrimas caíram em silêncio <strong>do</strong>s olhos<br />

daqueles <strong>do</strong>is perdi<strong>do</strong>s. Pedro tinha jura<strong>do</strong> que mataria os bandi<strong>do</strong>s que fizeram aquilo

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