19.04.2013 Views

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

efeição. Logo o faxina passaria recolhen<strong>do</strong> tu<strong>do</strong>. Duas horas depois <strong>do</strong> café viu mais<br />

macas transitan<strong>do</strong> com prisioneiros apaga<strong>do</strong>s. Vicente respirou fun<strong>do</strong>. Às vezes as<br />

rebeliões cheiravam forte horas antes, mas naquela manhã estava tu<strong>do</strong> atípico e quieto,<br />

muito quieto. Não abriram as celas para o banho de sol, e ninguém reclamou. O faxina<br />

demorou para passar recolhen<strong>do</strong> os pratos <strong>do</strong> café da manhã e despejan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> no<br />

carrinho de cesta plástica. Quan<strong>do</strong> parou na frente da cela de Vicente, o Nelsão olhou<br />

para o prato vazio <strong>do</strong> gigante careca e para os <strong>do</strong>is pratos intoca<strong>do</strong>s, e começaram a<br />

conversar.<br />

— Xiiii. Aqui também, é?<br />

— Aqui o quê?<br />

— Seus amigos aí, estão apaga<strong>do</strong>s, não é?<br />

Vicente olhou para o Canivete e para o Prata. Ele tinha acha<strong>do</strong> um boca<strong>do</strong> esquisito<br />

eles não terem acorda<strong>do</strong> para tomar o café e continuarem lá, <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong> que nem <strong>do</strong>is<br />

bebês, mesmo com o avançar da manhã. Principalmente o Prata, que era elétrico e sofria<br />

de insônia.<br />

— Tem uma pá de nego apaga<strong>do</strong> assim, Vicentão. Tá o maior buchicho no xadrez.<br />

Tão achan<strong>do</strong> que puseram alguma coisa na caixa-d’água.<br />

Vicente coçou a cabeça raspada e olhou de novo para os <strong>do</strong>is amigos.<br />

— Ô, Prata, acorda!<br />

Nenhum <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is se mexeu. Nelsão abriu um sorriso largo e ficou olhan<strong>do</strong> para<br />

Vicente, que se aproximou <strong>do</strong>s colegas de cela e chacoalhou o ombro <strong>do</strong> Prata.<br />

— Acorda, malandro!<br />

Nada.<br />

— Tô te falan<strong>do</strong>, meu irmão — tornou o faxina. — Tão comentan<strong>do</strong> aí que jogaram<br />

coisa na água.<br />

— Porra, eu bebi água pra caralho ontem, Nelsão, e tô legalzão. Quem ia fazer uma<br />

crocodilagem dessas?<br />

— A gente viu um águia subin<strong>do</strong> no telha<strong>do</strong> lá <strong>do</strong> pátio. Ele tava carregan<strong>do</strong> alguma<br />

coisa lá pra cima.<br />

— E por que até agora ninguém tá balançan<strong>do</strong> a cadeia? Como é que tá to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />

quieto?<br />

— Porque tá to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> assusta<strong>do</strong>. Foi pra lá da metade <strong>do</strong>s detentos que apagou<br />

essa noite.<br />

— Eu nem <strong>do</strong>rmi, de tanto nervoso — revelou Vicente, colan<strong>do</strong> na grade e olhan<strong>do</strong><br />

para o pavilhão. — A Lili vem me visitar hoje.<br />

Nelsão abriu de novo o sorriso.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!