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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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sangue que já tinham bebi<strong>do</strong>.<br />

— É aqui — disse Jessé, ao subir mais um patamar.<br />

A dupla deixou as escadarias e adentrou o corre<strong>do</strong>r <strong>do</strong> andar da UTI. Aquele andar<br />

estava escuro, sem luzes de emergência funcionan<strong>do</strong>. Jessé viu Ludmyla ficar com os<br />

olhos vermelhos, acesos, e imaginou que os dele também tivessem daquele jeito, rubros,<br />

vivos, vencen<strong>do</strong> a escuridão e deixan<strong>do</strong> o caminho sem segre<strong>do</strong>s. Apesar de fazer anos<br />

que não visitava o velho, Jessé lembrou-se <strong>do</strong> trajeto feito ali. Em dia normal entrariam<br />

num vestíbulo antes de passarem aos quartos da UTI. Nesse vestíbulo calçariam uma<br />

proteção de teci<strong>do</strong> sobre os sapatos, colocariam uma calça verde larga e um camisão por<br />

cima de tu<strong>do</strong>. Teriam que lavar as mãos por quase cinco minutos, passan<strong>do</strong> um tipo de<br />

gel que mataria todas as bactérias da pele. Pelo menos fora isso que a enfermeira dissera<br />

naquela ocasião e que ficara reti<strong>do</strong> em sua memória. Como aquele não era um dia<br />

normal, Jessé forçou a porta dupla e acenou para que Ludmyla o seguisse, em vez de<br />

ficar no corre<strong>do</strong>r, len<strong>do</strong> os cartazes afixa<strong>do</strong>s na parede. Ela vinha ao seu encontro<br />

quan<strong>do</strong> um barulho de uma bandeja metálica cain<strong>do</strong> deixou-os sobressalta<strong>do</strong>s.<br />

Ludmyla ia falar alguma coisa, quan<strong>do</strong> olhou para Jessé, que estava com o de<strong>do</strong><br />

indica<strong>do</strong>r cola<strong>do</strong> ao lábio, fazen<strong>do</strong> um sinal de silêncio. Ludmyla sorriu, fazen<strong>do</strong> uma<br />

ligação entre a imagem <strong>do</strong> amigo e a clássica imagem da enfermeira que pede silêncio em<br />

respeito aos convalescentes. Ela encostou no amigo e ficaram olhan<strong>do</strong> para uma porta.<br />

Um facho de luz dançava pelo vão que se formava no rodapé <strong>do</strong> batente. Tinha gente <strong>do</strong><br />

outro la<strong>do</strong>, sussurran<strong>do</strong>.<br />

Jessé apurou sua audição, havia algo com os senti<strong>do</strong>s, igual aos olhos, que parecia se<br />

amplificar quan<strong>do</strong> necessário. Ouvia o cochicho de três homens e ao menos duas<br />

mulheres. Tinham também os resmungos. O roçar de teci<strong>do</strong>. Aquelas pessoas escondidas<br />

atrás da porta tinham amarra<strong>do</strong> alguns de seus semelhantes. Jessé não demorou muito<br />

para imaginar o que acontecia. Era gente que tinha vin<strong>do</strong> ao hospital com familiares<br />

enfermos, <strong>do</strong> jeito como ele também tinha fica<strong>do</strong>. Agora, aqueles <strong>do</strong>entes, tinham se<br />

transforma<strong>do</strong> e se não fossem amordaça<strong>do</strong>s e amarra<strong>do</strong>s não poderiam ser conti<strong>do</strong>s. Não<br />

havia choro, mas Jessé sentia o delicioso afago <strong>do</strong> me<strong>do</strong> daquelas pessoas tocan<strong>do</strong> seus<br />

poros.<br />

— Vamos pegá-los? — cochichou a garota em seu ouvi<strong>do</strong>.<br />

— Está louca?! Não vamos fazer nada disso agora. Eu vim com um propósito.<br />

Primeiro tenho que encontrar o velho Tomaz e tirá-lo daqui, ajudá-lo de alguma forma.<br />

Devo isso a <strong>do</strong>na Miriam.<br />

— Deve?<br />

— Devo. Quan<strong>do</strong> ela morreu nos meus braços, logo depois, eu prometi que viria

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