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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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estaria com fome? Com sede? Não sabia responder. Everal<strong>do</strong> pensou nas meninas. Se elas<br />

entrassem em sua casa? Poderiam fazer com Isis o mesmo que tinham feito à senhora na<br />

rua. E pelo que o jornaleiro tinha revela<strong>do</strong>, existiam outros, por aí, soltos e matan<strong>do</strong><br />

gente. Por quê? Everal<strong>do</strong> sempre assistia a filmes de terror, com vampiros e zumbis e o<br />

fim <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Sentiu um calafrio percorren<strong>do</strong> o seu corpo. Se aquilo fosse um pesadelo,<br />

queria despertar naquele momento.<br />

De fato despertou <strong>do</strong> torpor ouvin<strong>do</strong> a campainha. Foi até a sala e olhou através da<br />

janela. Era Dolores, com o filho no colo. O que aquela maluca estava fazen<strong>do</strong> ali?<br />

Everal<strong>do</strong> saiu para o quintal.<br />

— Graças a Deus você está aqui, Everal<strong>do</strong>! Graças a Deus!<br />

— O que foi que aconteceu?<br />

— Ai, tu<strong>do</strong>, Everal<strong>do</strong>! Aconteceu tu<strong>do</strong>!<br />

— Seu pai ou sua mãe melhoraram?<br />

— Não.<br />

Conversavam enquanto Everal<strong>do</strong> destrancava o portão e pedia para Dolores entrar.<br />

— É o meu mari<strong>do</strong>. Ele chegou em casa ontem, voltou <strong>do</strong> trabalho porque os<br />

telefones não funcionavam e o patrão na viação dispensou to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> escritório. Ele<br />

começou a passar mal de noite, muito mal. Uma hora ele começou a me bater, Everal<strong>do</strong>.<br />

Olha o meu rosto.<br />

Só agora Everal<strong>do</strong> percebia a marca roxa no rosto da mulher.<br />

— Foi um soco?<br />

— Mais um empurrão, mas <strong>do</strong>eu que nem um soco. Ele ficou fora de controle,<br />

dizen<strong>do</strong> que seu estômago estava <strong>do</strong>en<strong>do</strong>, que sua cabeça estava explodin<strong>do</strong>, que estava<br />

de saco cheio de to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e, quan<strong>do</strong> eu pedi para que falasse baixo por causa <strong>do</strong><br />

neném <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong>, ele me agrediu. Nunca o vi daquele jeito, Everal<strong>do</strong>, nunca. Você tá<br />

bêba<strong>do</strong>?<br />

— Pra caralho. Bebi a noite inteira.<br />

Dolores colocou o neném enroladinho no cobertor no sofá e pôs o rosto no meio das<br />

mãos, os cotovelos apoia<strong>do</strong>s nos joelhos. Everal<strong>do</strong> não se mexeu. Deixou a mulher<br />

chorar um pouco. O que ele ia dizer? O mari<strong>do</strong> dela era um baita dum escroto pelo que<br />

o Medeiros falava, mas nunca tinha bati<strong>do</strong> nela.<br />

— Eu me tranquei no quarto, Everal<strong>do</strong>, com a minha mãe. Ela ainda tá daquele jeito,<br />

que nem meu pai. — Dolores soluçou, parecia uma menina de dez anos choran<strong>do</strong>. — Ele<br />

ficou baten<strong>do</strong> na porta a noite inteira, Everal<strong>do</strong>, a noite inteira. Falan<strong>do</strong> que queria<br />

entrar, gritan<strong>do</strong> que nem um louco.<br />

— E como você conseguiu sair?

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