19.04.2013 Views

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

— Eu aju<strong>do</strong> a senhora a subir.<br />

— Obrigada, filho. Deus lhe pague.<br />

— Para onde a senhora vai?<br />

— Estou in<strong>do</strong> ao apartamento da minha filha. Ela mora <strong>do</strong>is quarteirões para baixo,<br />

naquela curva antes de descer para a Barra Funda, sabe?<br />

— Por que não esperou em casa? Está uma confusão <strong>do</strong>s diabos aqui.<br />

— Meu velho não acorda, moço. Ele é sempre tão disposto. To<strong>do</strong> dia de manhã a<br />

gente faz caminhada. Nos <strong>do</strong>mingos andamos lá em cima <strong>do</strong> Minhocão. Nunca o vi<br />

assim. Ele tem pressão alta, sabe? Estou com me<strong>do</strong> de ser um derrame. O irmão dele está<br />

há mais de ano no Incor por causa de derrame. Não anda, não fala, não faz nada. Vive no<br />

tubo.<br />

— Tem uma viatura de polícia descen<strong>do</strong> essa calçada. A senhora consegue chegar lá?<br />

— Eu pensei que você ia me ajudar.<br />

— Eu ia. Mas estou atrasa<strong>do</strong> para o trabalho. Diga a eles que o Cássio pediu pra eles<br />

te levarem até a casa da sua filha. É perto, não é?<br />

— Pertinho.<br />

— Eles vão te levar. Grava meu nome.<br />

— Cássio.<br />

— Isso. Ele não teve derrame. É uma epidemia. — Cássio vacilou, não sabia se era<br />

uma epidemia ou não, só estava repetin<strong>do</strong> o que tinha escuta<strong>do</strong>. — Ou coisa parecida.<br />

Tem muita gente assim.<br />

— Eu estou perdida, moço.<br />

— Vai.<br />

Cássio passou a mão sobre a mão da mulher que empunhava a cadeira de rodas, e<br />

partiu rumo ao quartel. Seus pensamentos estavam começan<strong>do</strong> a turvar. Pensava no<br />

trabalho e pensava na família. Podia voltar agora de onde estava. A cidade parecia em<br />

curto-circuito por falta de comunicação. Cássio continuou caminhan<strong>do</strong> na direção <strong>do</strong><br />

quartel. Mas já não estava tão seguro se iria até o fim. Caso entrassem em alerta, poderia<br />

ficar deti<strong>do</strong> no seu posto até as coisas voltarem ao normal, ou até ter uma autorização<br />

para voltar à residência. E se a irmã estivesse daquele jeito? Como o sobrinho e a<br />

sobrinha reagiriam? Eles tinham cabeça, iam chamar alguém, algum vizinho. Megan se<br />

lembraria <strong>do</strong> tio Francisco, que morava <strong>do</strong>is quarteirões adiante. Mas e se achassem que<br />

Alessandra estava morta? As crianças entrariam em pânico. Tentariam ligar no seu<br />

celular, mas os telefones estariam fora de serviço. Cássio parou indeciso. Virou-se em<br />

direção à Ponte das Bandeiras. Estava ao la<strong>do</strong> de uma banca de jornal. Pessoas paradas<br />

olhavam para as manchetes. Ao que parecia, nem toda comunicação tinha si<strong>do</strong> cortada.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!