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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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— E você, Chiara? Tem algum?<br />

Chiara balançou a cabeça negativamente.<br />

— Como a minha mãe diz, tô lisa.<br />

Jéssica enfiou a mão no bolso e deu vinte reais para a amiga.<br />

— Com essa grana você come um <strong>do</strong>gão e ainda sobra pra você voltar com o Breno.<br />

— Tenta falar com a mãe deles. Ela deve estar por lá. Deve ter um monte de polícia<br />

lá na casa deles. — Chiara parou de falar, roen<strong>do</strong> a unha. Só roía a unha quan<strong>do</strong> estava<br />

muito nervosa. — Se puder, vai na minha casa também, conta tudinho pra minha mãe e<br />

diz que não vou voltar até conseguir achar a mãe <strong>do</strong>s meninos. Não vou deixá-los<br />

sozinhos. Não posso.<br />

Jéssica olhou para Breno, ainda <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong>.<br />

— E ele, hein? E se o Pedro... Como ele vai ficar?<br />

— Nem fala isso, Jéss. O Foguete vai ficar bem. Vai dar tu<strong>do</strong> certo. Pensa positivo.<br />

As duas se abraçaram mais uma vez.<br />

— Vai lavar seu rosto. Seu rímel escorreu to<strong>do</strong>. Tá parecen<strong>do</strong> o Coringa — disse<br />

Jéssica antes de sair <strong>do</strong> hospital. — E para de roer as unhas; se eu conseguir voltar, trago<br />

o meu kit pra refazer.<br />

Chiara sorriu para a amiga, e aquele sorriso perdurou por alguns segun<strong>do</strong>s, morren<strong>do</strong><br />

quan<strong>do</strong> seus olhos encontraram o irmão mais novo a<strong>do</strong>rmeci<strong>do</strong>. Pobrezinho. Dormiu<br />

com fome. De madrugada ele tinha pedi<strong>do</strong> para comer algo e Chiara o tinha distraí<strong>do</strong>,<br />

dizen<strong>do</strong> que comeriam de manhã.<br />

Jéssica não demorou para avistar a passarela subterrânea que a levaria até a estação da<br />

CPTM. Apesar <strong>do</strong> sol radiante sobre o céu de Osasco, a manhã soprava uma brisa gelada.<br />

Realmente a mulher que conversava com a outra mais ce<strong>do</strong> tinha razão. A estação <strong>do</strong><br />

centro de Osasco estava a coisa de quinhentos metros <strong>do</strong> hospital. Atravessou <strong>do</strong> bairro<br />

de Presidente Altino para o centro por baixo de um túnel. A estação ainda estava vazia.<br />

Ficou na plataforma olhan<strong>do</strong> para o la<strong>do</strong> onde ficava o hospital, imaginan<strong>do</strong> Chiara<br />

sozinha. Queria ficar com a amiga, mas estava com me<strong>do</strong> e com vontade de ver sua mãe.<br />

Tinha si<strong>do</strong> muita loucura para uma balada na casa de vizinhos. O pior é que seu pai já<br />

havia fala<strong>do</strong> para não ficar andan<strong>do</strong> com os filhos da promotora por aí porque eles eram<br />

alvos marca<strong>do</strong>s. O trem chegou, e meia dúzia de pessoas desceu <strong>do</strong> vagão. Jéssica entrou<br />

e sentou enquanto ouvia o sinal de partida e as portas deslizarem, se fechan<strong>do</strong>. O vagão<br />

estava vazio, estranhamente vazio. Cerca de quatro ou cinco pessoas. Uma mulher no fim<br />

<strong>do</strong> vagão, vestin<strong>do</strong> blusa de lã com uma touca e cachecol, chamou sua atenção. Ela estava<br />

sentada e curvada para a frente. Ela cobria os olhos com um <strong>do</strong>s braços. O corpo da

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