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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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— Não — rebateu Jessé, pousan<strong>do</strong> as mãos nas mãos da vampira e voltan<strong>do</strong> para o<br />

chão. — Não estou mancomuna<strong>do</strong> com ninguém, promotora.<br />

— Eu não sou mais promotora. Eu, você e sua namorada não somos mais nada.<br />

Conte-me mais de seu sonho.<br />

— Você não me falou de sonho nenhum, Jessé. Tá fazen<strong>do</strong> segre<strong>do</strong> agora?<br />

O vampiro olhou para as duas e começou a balançar a cabeça.<br />

— Isso começou ontem quan<strong>do</strong> chegamos ao Incor, Ludmyla. Parece que alguma<br />

coisa soprava no meu ouvi<strong>do</strong> que era para eu ficar por aqui. — Jessé desviou o olhar para<br />

a vampira ruiva. — Parece que tu<strong>do</strong> isso era para eu encontrar você, Raquel.<br />

A vampira ficou calada por alguns segun<strong>do</strong>s. Sua mente lutava com memórias antigas<br />

e com lembranças das noites anteriores. Por que alguns <strong>do</strong>s vampiros podiam conversar,<br />

como aqueles <strong>do</strong>is, e outros eram diferentes? Os outros pareciam bichos, monstros<br />

carniceiros descerebra<strong>do</strong>s. Raquel precisaria de to<strong>do</strong>s eles para reaver seus filhos.<br />

— Vamos, mostre-me onde viu meu filho.<br />

Andaram por cerca de duas horas até o final <strong>do</strong> entroncamento das marginais com a<br />

ro<strong>do</strong>via Castello Branco. Novamente a vampira sentia o cheiro <strong>do</strong>s cavalos sobre o<br />

asfalto. Eles tinham esta<strong>do</strong> ali. Notou que não tinha se cansa<strong>do</strong> e chegou a perguntar<br />

para os <strong>do</strong>is estranhos vampiros se sentiam algum desconforto com a caminhada. Não<br />

sentiam. Como ela, não se desgastavam e poderiam andar a noite inteira. Contu<strong>do</strong>, ela<br />

sentia sede. Muita sede. Precisava de mais sangue vivo em seu organismo para garantir<br />

que o encanto se perpetuasse. Olhou para Jessé, que entendeu a pergunta. O homem<br />

apontou para o outro la<strong>do</strong> <strong>do</strong> rio. Para os olhos de Raquel não havia escuridão, e o que<br />

ela via era um ginásio de esportes e um hospital. Podia ser isso. O maldito comparsa <strong>do</strong><br />

Urso Branco podia ter menti<strong>do</strong> sobre o destino de seu filho. Fazia mais senti<strong>do</strong> ele estar<br />

ali <strong>do</strong> que no HC, era mais perto de sua casa.<br />

Desceram até a pista ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> rio e cruzaram as águas negras sobre uma passarela<br />

metálica. Não havia vivalma na rua, nem mesmo na estrada, a cidade era <strong>do</strong>s mortos, que<br />

vagavam e eram avista<strong>do</strong>s ao longe, com seus olhos de brilho fácil e suas peles exangues<br />

que refletiam a luz pálida da lua, que teimava em surgir entre brechas de nuvens que<br />

rolavam soltas com o vento. Indiferente à humanidade que sangrava e parecia enfrentar o<br />

momento <strong>do</strong> fim, o planeta continuava sua valsa encadeada com som e ar, com<br />

fenômenos e precipitações.<br />

Andavam em silêncio. Raquel não tinha nada a dizer àqueles <strong>do</strong>is. Um <strong>do</strong>s poucos<br />

momentos em que tinha aberto a boca foi ao passar mais uma vez em frente ao CDP de<br />

Pinheiros, apontan<strong>do</strong> para a dupla onde o traficante tinha si<strong>do</strong> encarcera<strong>do</strong> e assassina<strong>do</strong>,

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