19.04.2013 Views

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

mostran<strong>do</strong> os milhos para to<strong>do</strong>s que passavam, enquanto a maioria deles estava<br />

ressabiada com o murmurinho da <strong>do</strong>ença que tinha chega<strong>do</strong> naquela noite. Amintas,<br />

naquele dia, e só naquele dia, não cansou de contar e recontar a história de sua conquista<br />

que, narrada com tanta felicidade, alargava os sorrisos e despreocupava a to<strong>do</strong>s que se<br />

pegavam a ouvi-lo. A conquista, essa sim, era uma <strong>do</strong>ença contagiosa.<br />

Toda aquela ciranda o tinha coloca<strong>do</strong> ali, na calçada da avenida, chegan<strong>do</strong> no<br />

trabalho bem na hora <strong>do</strong> pôr <strong>do</strong> sol. Os garçons chegavam nos bares e casas noturnas<br />

naquele mesmo horário, engrossan<strong>do</strong> o balé, como as revoadas de pássaros que buscavam<br />

a invernada ao tocar da segunda campainha antes <strong>do</strong> espetáculo.<br />

— Fala, velho! Que sorriso maroto é esse na tua cara?<br />

Amintas virou-se e encontrou Toninho para<strong>do</strong> ao seu la<strong>do</strong>, na porta de entrada.<br />

— Tô feliz da vida, Toninho.<br />

— Pelo visto deu tu<strong>do</strong> certo lá no banco.<br />

— Tu<strong>do</strong> certíssimo. Daqui a quinze dias, mais ou menos, já tô moran<strong>do</strong> no meu<br />

cafofo novo. Meuzinho.<br />

Toninho deu <strong>do</strong>is tapas nas costas <strong>do</strong> amigo e subiram juntos para o vestiário. Ele era<br />

um <strong>do</strong>s <strong>do</strong>ze garçons e trabalhava havia quatro anos no Cigana, a boate mais badalada da<br />

capital paraense.<br />

— Parabéns, meu velho! Não tem nada melhor nessa vida <strong>do</strong> que um cantinho para<br />

espichar o esqueleto.<br />

Amintas riu enquanto destrancava seu escaninho. Tirou de dentro dele uma camisa<br />

limpa e seu terno preto: o indefectível uniforme de segurança de puteiro. Empurrou um<br />

saco de papel para o la<strong>do</strong>, tirou a roupa suada e colocou-a no armário. Do fun<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

compartimento tirou seu sabonete e uma escova de dentes.<br />

Ligou o chuveiro e regulou no registro a temperatura da água, deixan<strong>do</strong>-a fria o<br />

suficiente para não incomodar seu esqueleto de sessenta anos de idade. Não tinha<br />

prega<strong>do</strong> o olho naquela noite e passara o dia fora de casa. Contu<strong>do</strong> estava sem sono, só<br />

cansaço, um cansaço que agora parecia brutal.<br />

Toninho chegou até o chuveiro onde Amintas se banhava e começou a rir.<br />

— Agora só falta tu encomendar um neném, se é que essa piroca velha e murcha<br />

ainda atira.<br />

— Olha o respeito, rapaz! Tá achan<strong>do</strong> o quê? Tenho mais gás no bujão que muito<br />

moleque que entra aqui atrás das raparigas.<br />

— Se quiser ajuda é só me chamar, viu?<br />

— Ah, mas tô fican<strong>do</strong> frouxo mesmo. Tá achan<strong>do</strong> que vou pedir ajuda? Eu emprenho<br />

minha mulher, a tua, as tuas vizinhas todas, tua mãe e até tu, se ficar marcan<strong>do</strong> touca.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!