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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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— Vou precisar de sua ajuda, Dolores. Seu mari<strong>do</strong> é grande. Pega as pernas dele aí<br />

que eu levo ele pelos braços.<br />

Dolores obedeceu mecanicamente. Estava cansada daquele dia, cansada demais para<br />

pensar no que fazer. Agarrou as pernas <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>, que estava de tênis e moletom, e<br />

começou a puxá-lo para fora. Everal<strong>do</strong> agarrou Vinícius pelas axilas e suspendeu seu<br />

pesa<strong>do</strong> corpo para fora <strong>do</strong> carro, arquean<strong>do</strong> as costas por causa da carga. Foram se<br />

moven<strong>do</strong> a passos lentos enquanto um calafrio percorria toda a pele de Everal<strong>do</strong>. Tinha<br />

algo erra<strong>do</strong> ali. Algo muito erra<strong>do</strong>.<br />

— Para, Dolores.<br />

A mulher ainda deu mais <strong>do</strong>is passos até processar o pedi<strong>do</strong> <strong>do</strong> homem.<br />

Everal<strong>do</strong> baixou o corpo de Vinícius e olhou para a mulher.<br />

— O que foi?<br />

Everal<strong>do</strong> baixou os olhos para Vinícius. O negócio é que o corpo <strong>do</strong> mari<strong>do</strong> de<br />

Dolores estava frio. Frio demais.<br />

— Eu acho... — começou, sem conseguir continuar.<br />

— O quê? — perguntou à mulher aflita, desvian<strong>do</strong> os olhos para o mari<strong>do</strong> páli<strong>do</strong> no<br />

chão. — Não fala uma coisa dessas, Everal<strong>do</strong>. Não fala.<br />

Everal<strong>do</strong> assistiu à mulher se abaixar e abraçar o mari<strong>do</strong>. Ela ficou ali um instante e<br />

não demorou a vir o choro. Desde que aquele inferno começara tu<strong>do</strong> o que ele via a<br />

Dolores fazer era chorar. Everal<strong>do</strong> afun<strong>do</strong>u as mãos nos cabelos e caiu ajoelha<strong>do</strong>. Suas<br />

pernas tremiam e ele virou-se para o la<strong>do</strong>, vomitan<strong>do</strong> um suco áci<strong>do</strong> sobre a grama <strong>do</strong><br />

terreno. Era demais até para ele. O mari<strong>do</strong> de Dolores estava morto. Tinha morri<strong>do</strong> no<br />

porta-malas <strong>do</strong> seu carro.<br />

Dolores levantou a cabeça prantean<strong>do</strong> a morte <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>, enquanto o sol descia no<br />

horizonte, a luz se despedin<strong>do</strong> <strong>do</strong> dia, deixan<strong>do</strong> para trás um gosto amargo a ser traga<strong>do</strong><br />

e digeri<strong>do</strong> por cada ser vivente.

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