19.04.2013 Views

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

— Vem com a gente — sussurrou o enfermeiro.<br />

Um mulher de cerca de quarenta anos levantou o rosto rasga<strong>do</strong> de lágrimas,<br />

parecen<strong>do</strong> bastante assustada a princípio. Quan<strong>do</strong> viu a médica e o policial, a mulher se<br />

levantou. Uma menina de oito anos estava abaixada no degrau debaixo, e um rapaz de<br />

uns dezesseis a segurava. Foi o garoto quem falou primeiro.<br />

— A gente perdeu meu irmão. Ele está <strong>do</strong>ente.<br />

— A<strong>do</strong>rmeci<strong>do</strong>?<br />

— Não — disse a mãe. — Ele não está a<strong>do</strong>rmeci<strong>do</strong>. Está pior.<br />

— Venha para o PS com a gente, <strong>do</strong>na. Depois que entendermos o que aconteceu<br />

com essas pessoas a gente tenta achar o seu filho.<br />

Desceram para o primeiro piso, to<strong>do</strong>s seguin<strong>do</strong> o enfermeiro que, amedronta<strong>do</strong>,<br />

olhava para to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s. Olhos vermelhos surgiram no meio <strong>do</strong> saguão. Estavam a<br />

poucos metros <strong>do</strong> corre<strong>do</strong>r de funcionários. Alexandre congelou no meio <strong>do</strong> caminho,<br />

enquanto a médica puxava o policial, indican<strong>do</strong> a porta.<br />

— Vamos, Alexandre. Não pare aqui — disse Liege.<br />

— E-eles, eles estão vin<strong>do</strong>, <strong>do</strong>utora.<br />

A médica olhou para o corre<strong>do</strong>r escuro à esquerda <strong>do</strong> grupo de onde vinham<br />

grunhi<strong>do</strong>s, como se animais selvagens espreitassem a caça. A médica viu três pares de<br />

olhos brilhantes acesos na escuridão. Já tinha visto aquela gente perturbada, mas nunca<br />

tinha visto aquilo. Como era possível? Havia alguma modificação na pupila <strong>do</strong>s <strong>do</strong>entes?<br />

Seria um efeito similar ao <strong>do</strong>s olhos de um gato? Liege olhou para o policial. Benício<br />

estava balançan<strong>do</strong> ao seu la<strong>do</strong>, provavelmente havia mais algum ferimento interno que<br />

prejudicava seu esta<strong>do</strong> geral. Voltaram a caminhar em direção à porta de acesso aos<br />

funcionários, quan<strong>do</strong> aqueles pares de olhos vermelhos dispararam de encontro ao grupo.<br />

O enfermeiro brandiu o cassetete acima de sua cabeça e gritou, tentan<strong>do</strong> assustar os<br />

agressivos que chegavam. O trio era composto por um homem alto, de uns 35 anos, e<br />

duas mulheres, uma parecia velha, com mais de 60 anos, enquanto a outra era uma<br />

a<strong>do</strong>lescente, de uns 16. Eles se separaram ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> grupo que tentava chegar ao PS,<br />

tentan<strong>do</strong> impedir a fuga. Estavam curva<strong>do</strong>s, como que preparan<strong>do</strong> um salto, e grunhiam<br />

de maneira assusta<strong>do</strong>ra. A menina mais nova se aproximou de Alexandre e rosnou,<br />

abrin<strong>do</strong> a boca e exibin<strong>do</strong> dentes alonga<strong>do</strong>s e pontiagu<strong>do</strong>s. O enfermeiro golpeou o ar<br />

com o cassetete, tentan<strong>do</strong> afugentá-la, mas a agressiva não deu nem um passo para trás,<br />

grunhin<strong>do</strong> ainda mais alto. O enfermeiro não queria bater na garota. Algo o impedia.<br />

Era só uma menina <strong>do</strong>ente, não tinha culpa de estar daquele jeito. Assim que completou<br />

esse pensamento, se arrependeu. A garota saltou para cima dele, desequilibran<strong>do</strong>-o e<br />

assustan<strong>do</strong>-o ainda mais com um rugi<strong>do</strong> ferino. Graças ao cassetete, conseguiu manter os

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!