19.04.2013 Views

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

com o pai. Raquel tinha também feito sua jura. A jura de que não deixaria a vida de Davi<br />

escorrer em vão para o outro la<strong>do</strong> <strong>do</strong> manto. Que ela continuaria a luta <strong>do</strong> homem de<br />

sua vida e que o honraria, fazen<strong>do</strong> com que cada um daqueles bandi<strong>do</strong>s apodrecesse atrás<br />

das grades. To<strong>do</strong> esse turbilhão passou diante de seus olhos como um flash. Deixan<strong>do</strong>-a<br />

confusa e desnorteada por um instante. Então algo sutil fez to<strong>do</strong> o seu corpo entrar em<br />

alerta. Eles, os bandi<strong>do</strong>s, tinham se cala<strong>do</strong>. Agora um barulho, como um ferrolho, e<br />

alguém mexen<strong>do</strong> na porta <strong>do</strong> cativeiro. Raquel agarrou a faca com força. Tinha visto<br />

aquela cena em sua mente um milhão de vezes. Tirar a vida de alguém. Não deveria pesar<br />

tanto, afinal de contas aqueles malditos filhos da mãe faziam isso quase toda semana,<br />

depois eram vistos se divertin<strong>do</strong> e, por vezes, presos em festas, completamente<br />

embriaga<strong>do</strong>s de alegria e cachaça. Ademais, eram os assassinos de seu mari<strong>do</strong> e agora, de<br />

seus filhos. Assassinos de outras tantas famílias. Ninguém choraria sobre seus cadáveres.<br />

Respirar, manter a calma. Eles tinham fuzis e pistolas. Ela tinha a faca, o soco inglês e o<br />

elemento surpresa a seu favor. Na melhor das hipóteses, na realização <strong>do</strong> seu sonho mais<br />

<strong>do</strong>ura<strong>do</strong>, conseguiria dar cabo de <strong>do</strong>is deles, daí restariam <strong>do</strong>is homens arma<strong>do</strong>s com que<br />

lidar. Ela jamais sairia dali com vida, mas levaria Adilson junto. Agarrou a empunhadura<br />

da faca negra e recostou-se ao máximo contra a parede, misturan<strong>do</strong>-se às sombras,<br />

sentin<strong>do</strong> o metal frio nas mãos. O som <strong>do</strong> deslizar <strong>do</strong> ferrolho chegou ao fim com um<br />

leve solavanco da porta de madeira. A porta abria para dentro <strong>do</strong> cômo<strong>do</strong> ocupa<strong>do</strong> pelos<br />

bandi<strong>do</strong>s. Uma mão de mulher surgiu, pressionan<strong>do</strong> o interruptor. Uma luz fraca<br />

alimentou o cativeiro. Sardenta colocou a cabeça para dentro <strong>do</strong> quartinho, olhan<strong>do</strong> para<br />

o amontoa<strong>do</strong> de teci<strong>do</strong>s no lugar onde a promotora deveria estar. Aquele vacilo de <strong>do</strong>is<br />

segun<strong>do</strong>s foi o suficiente para Raquel agir, enfian<strong>do</strong> a lâmina até o cabo no pescoço da<br />

mulher, que tinha sua altura, e puxan<strong>do</strong>-a pelos cabelos para dentro da baderna,<br />

enquanto o sangue dela esguichava pelas paredes com a artéria perfurada. Sardenta<br />

revirou os olhos na direção da promotora e ainda tentou erguer a pistola que estava em<br />

sua mão, mas seu corpo começou a desmoronar, perden<strong>do</strong> as forças enquanto um som<br />

gutural saía de sua boca. Raquel largou a faca enfiada no pescoço da vagabunda e correu<br />

para a pistola largada no chão. Enquanto levantava com a arma, tecen<strong>do</strong> um fino fio de<br />

esperança, o quarto clareou e um trovão explodiu lá dentro. Raquel cambaleou e bateu<br />

contra a parede <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s, junto à chapa de madeira onde deveria estar a janela para a<br />

fuga. Outro trovão. Raquel caiu em linha reta, contra a parede, desaban<strong>do</strong> sentada,<br />

tentan<strong>do</strong> erguer a pistola.<br />

— Que merda, hein, urubuzona? Precisava ter mata<strong>do</strong> a Sardenta? — perguntou o<br />

rapaz da voz de taquara rachada. — Você acabou de foder a gente matan<strong>do</strong> a mulher <strong>do</strong><br />

chefe.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!