19.04.2013 Views

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

entorno. Quan<strong>do</strong> finalmente adentrou a rua Japiúba, o sargento teve a sensação de<br />

adentrar uma rua fantasma. As casas pareciam mortas, e só os cachorros lamentavam nos<br />

quintais. Seus olhos percorreram as casas com melancolia, o silêncio aumentan<strong>do</strong> a<br />

sensação de que cada porta era um sepulcro.<br />

Com os joelhos <strong>do</strong>lori<strong>do</strong>s, as plantas <strong>do</strong>s pés latejan<strong>do</strong>, caminhou portão adentro e<br />

girou a chave na porta da frente. Estava destrancada. Entrou lentamente. Luzes apagadas.<br />

Bateu o de<strong>do</strong> no espelho e acionou a lâmpada da sala. Tu<strong>do</strong> quieto. Fechou a porta atrás<br />

de si.<br />

— Alessandra! — chamou de forma firme e sussurrada.<br />

Silêncio na casa. Parou na porta da cozinha. Nada. As louças estavam limpas e<br />

guardadas, indican<strong>do</strong> que ninguém usara o fogão naquele dia. Avançou pelo corre<strong>do</strong>r. As<br />

portas <strong>do</strong>s quartos estavam fechadas.<br />

— Alessandra!<br />

Cássio abriu a porta <strong>do</strong> quarto das crianças. Não estavam lá. O quarto da irmã estava<br />

vazio e revira<strong>do</strong>. Cobertor no chão, coisas fora <strong>do</strong> lugar. Alessandra sempre deixava tu<strong>do</strong><br />

certinho antes de ir trabalhar. Cássio avançou até os fun<strong>do</strong>s da casa, olhou para o seu<br />

puxadinho. Escuro e calmo. Uma claridade leve iluminava o chão de cacos de cerâmica<br />

ali nos fun<strong>do</strong>s. As nuvens tinham se dissipa<strong>do</strong> e deixavam a bem-vinda luz da lua banhar<br />

a cidade. O homem foi para o meio <strong>do</strong> quintal <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s e ficou olhan<strong>do</strong> para cima. A<br />

torre de celular com pintura laranja e branca, plantada no meio da sua rua, estava lá,<br />

intacta e inútil. Tirou o celular <strong>do</strong> bolso e o ergueu em direção à torre. Nada. Nenhum<br />

sinalzinho. Lá fora sobravam os lati<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s cães e faltava o resto da trilha sonora: nada<br />

de motores de carros, caminhão <strong>do</strong> lixo, estudantes conversan<strong>do</strong> e voltan<strong>do</strong> em grupos<br />

anima<strong>do</strong>s, nada de motoboys de pizzaria e suas buzinadinhas curtas e agudas chaman<strong>do</strong><br />

os fregueses na porta da casa, nem de moleques passan<strong>do</strong> com som alto em seus carros<br />

tuna<strong>do</strong>s, nada. Era como se já fosse alta madrugada. O sargento sacou seu celular <strong>do</strong><br />

bolso e conferiu as horas. Nove e quarenta da noite, ainda. Sua<strong>do</strong> e aflito, voltou para<br />

dentro de casa. Parou na cozinha e apanhou um copo de vidro na cristaleira. Abriu a<br />

geladeira e encheu-o com água gelada. Imediatamente uma membrana de gotículas<br />

envolveu o vidro. Tomou em grandes goles. Encheu mais uma vez e, quan<strong>do</strong> colocava o<br />

copo na pia, viu o papel em cima da mesa. Um bilhete da irmã.<br />

“Cá, fui para o hospital. As crianças não acordaram hoje de manhã, estou com me<strong>do</strong>.<br />

Tem risoto de ontem na geladeira. Reza. P.S.: tentei ligar, mas o telefone não funciona e<br />

não sei onde deixei meu celular”.<br />

Cássio sentou-se à mesa com o papel balançan<strong>do</strong> em sua mão, revelan<strong>do</strong> um tremor<br />

involuntário. De uns tempos para cá era assim, quan<strong>do</strong> ele ficava estressa<strong>do</strong>, as mãos

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!