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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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tinha fica<strong>do</strong> com o garoto pequeno aos seus cuida<strong>do</strong>s. Corina ouviu alguém dizen<strong>do</strong> que<br />

o garotinho era irmão <strong>do</strong> namora<strong>do</strong> da menina. A outra, que tinha fica<strong>do</strong> um bom<br />

tempo ao la<strong>do</strong> dela, fora embora. Corina suspirou lembran<strong>do</strong> <strong>do</strong>s seus namora<strong>do</strong>s de<br />

a<strong>do</strong>lescência. Tinha aproveita<strong>do</strong> muito bem essa idade, quan<strong>do</strong> ainda era novidade ver<br />

uma garota que trocava de namora<strong>do</strong> mais de uma vez na semana. Um deles, o Miguel,<br />

tinha si<strong>do</strong> uma coisa de louco e foi seu namoro mais dura<strong>do</strong>uro até conhecer o Everton,<br />

com quem se casou. Dava suspiros, dava pulos de alegria quan<strong>do</strong> recebia recadinhos<br />

trazi<strong>do</strong>s pelas amigas <strong>do</strong> colégio antigo. Uma vez ele pegou catapora, e a coisa estava<br />

feia. Ela, como já havia ti<strong>do</strong> a <strong>do</strong>ença, acreditava que não ia pegá-la mais, então o<br />

visitava to<strong>do</strong>s os dias na enfermaria <strong>do</strong> Hospital de Ourinhos. Seu pai era funcionário da<br />

Sorocabana naquela época, não era novidade quan<strong>do</strong> tinham que se mudar de uma cidade<br />

<strong>do</strong> interior para outra. Foi com o coração parti<strong>do</strong> que deixou Ourinhos e Miguel para<br />

trás. Secretamente lançou uma oração para que aquela menina não perdesse seu<br />

namora<strong>do</strong>, nem o brilho de sua juventude.<br />

O sol começou a cair no horizonte, e uma sensação ruim tomou conta de Corina. Foi<br />

no meio da noite anterior que tu<strong>do</strong> aquilo tinha começa<strong>do</strong>. O fim <strong>do</strong> dia e o começo da<br />

noite poderiam muito bem trazer esperança, afinal de contas tu<strong>do</strong> se iniciou <strong>do</strong> nada,<br />

como feitiço, pegan<strong>do</strong> a to<strong>do</strong>s de surpresa, então não seria muita loucura esperar que<br />

acabasse assim também, espontaneamente, com o simples passar das horas. Mas não era<br />

esperança que se derramava em seu coração. O nome <strong>do</strong> que sentia era me<strong>do</strong>. Saiu da<br />

recepção <strong>do</strong> hospital e adentrou o corre<strong>do</strong>r onde sua família tinha si<strong>do</strong> acomodada<br />

provisoriamente. Ficou afagan<strong>do</strong> o rosto <strong>do</strong> seu caçula, Henrique, por um longo tempo,<br />

passan<strong>do</strong> o de<strong>do</strong> indica<strong>do</strong>r sobre a cicatriz na testa <strong>do</strong> menino, relembran<strong>do</strong> as suas<br />

peraltices de quan<strong>do</strong> era um garotinho de cinco anos. Fora uma fase terrível para o<br />

Henrique. Quatro anos mais novo que Rafael, tentava imitar o irmão mais velho, que já<br />

aprontava algumas manobras de skate. Henrique só parou quan<strong>do</strong> chegou com a cabeça<br />

rachada depois de tentar saltar uma escada. Ia bem na escola, e no começo da<br />

a<strong>do</strong>lescência fazia um sucesso dana<strong>do</strong> com as meninas. Não que fosse um galã de novela,<br />

mas era <strong>do</strong> tipo que sabia chegar em qualquer uma e fazer a menina morrer de rir. Rafael<br />

era tími<strong>do</strong>, ótimo com matemática e um leitor contumaz. A<strong>do</strong>rava conversar com a mãe<br />

sobre tecnologia e comunicação, assunto que a <strong>do</strong>utora Corina <strong>do</strong>minava e, apesar de ter<br />

escolhi<strong>do</strong> ficar em casa para criar os meninos, <strong>do</strong> qual fazia questão de se manter<br />

atualizada. Por isso era tão perturba<strong>do</strong>ra aquela coincidência. Os meios de comunicação<br />

com os a<strong>do</strong>rmeci<strong>do</strong>s e também aqueles agressivos. Era possível que o me<strong>do</strong> viesse daí. Os<br />

agressivos. Alguns <strong>do</strong>s parentes trazi<strong>do</strong>s por outros até aquele hospital não estavam ali<br />

por causa <strong>do</strong> sono. Estavam ali por conta <strong>do</strong> comportamento violento que tinham

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