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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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Pisou na calçada e então viu o homem de joelhos, no grama<strong>do</strong> da praça. Era um homem<br />

gor<strong>do</strong>, de paletó e gravata, ele tinha arrasta<strong>do</strong> alguma coisa de dentro <strong>do</strong> carro e i<strong>do</strong> para<br />

o meio <strong>do</strong> grama<strong>do</strong> onde agora estava debruça<strong>do</strong>. A falta de luz prejudicava a<br />

interpretação <strong>do</strong> que ele fazia ali, no meio <strong>do</strong> nada. Cássio, em silêncio, se aproximou<br />

mais quan<strong>do</strong> um veículo passou pela avenida e, num relance de luz, o policial teve a<br />

chance de ver o que se passava. O homem estava debruça<strong>do</strong> no meio das pernas de uma<br />

mulher com as saias levantadas. Cássio baixou a arma e balançou a cabeça.<br />

— Que merda — murmurou baixinho, já dan<strong>do</strong> um passo para trás. Imaginava estar<br />

interrompen<strong>do</strong> uma sacanagenzinha exibicionista daqueles <strong>do</strong>is.<br />

Um grunhi<strong>do</strong> vin<strong>do</strong> <strong>do</strong> homem fez o policial não virar de costas e simplesmente<br />

seguir o seu caminho. O som tinha si<strong>do</strong> estranho, algo de animal, e não de gente. Cássio<br />

continuou olhan<strong>do</strong> para o homem, agora erguen<strong>do</strong> a arma mais uma vez. Outro<br />

grunhi<strong>do</strong>. O homem levantou a cabeça e virou-se para o policial. Cássio sentiu um<br />

arrepio da cabeça aos pés. O homem tinha os olhos vermelhos e o queixo coberto de<br />

sangue, que pingava agora sobre o grama<strong>do</strong>. A mulher, inerte, parecia morta. O homem<br />

levantou-se e grunhiu mais uma vez, dan<strong>do</strong> um passo na direção <strong>do</strong> policial, alcançan<strong>do</strong><br />

a calçada pavimentada.<br />

— Calma aí, cidadão — advertiu Cássio, erguen<strong>do</strong> a arma. — Levante as mãos, por<br />

favor. O senhor está preso.<br />

O homem ergueu as mãos até a altura de seu nariz, com os de<strong>do</strong>s separa<strong>do</strong>s, como<br />

um mágico se preparan<strong>do</strong> para um número; o sangue escorria de seus punhos e descia<br />

pelos braços, sumin<strong>do</strong> dentro <strong>do</strong> paletó. De seu queixo ainda caíam gotas grossas,<br />

estouran<strong>do</strong> no chão de cimento. Ele começou a rir.<br />

— To<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> está ten<strong>do</strong> um dia difícil hoje, senhor, mas vamos tentar manter a<br />

calma.<br />

O homem riu mais ainda.<br />

— Manter a calma, policial? Por quê?<br />

Cássio não soube o que responder, só manteve a arma apontada para a cabeça daquele<br />

estranho sujeito.<br />

— Eu passei mal o dia to<strong>do</strong>, o dia inteirinho com esse sol <strong>do</strong>s infernos queiman<strong>do</strong><br />

meus olhos — grunhiu o homem. — Fazen<strong>do</strong> meu corpo inteiro <strong>do</strong>er. Tinha também<br />

essa sede, essa sede insana.<br />

O homem baixou as mãos e apontou para o corpo da mulher.<br />

— Eu só queria voltar para casa, aí essa <strong>do</strong>na aí me chamou, estava histérica. Disse<br />

que o carro não funcionava desde ontem à noite e ninguém vinha ajudá-la. Ela gritava e<br />

chorava e pediu para eu ajudar. Eu até queria... Ocupar minha cabeça, esquecer essa <strong>do</strong>r,

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