19.04.2013 Views

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

acidentes. Vai ficar tu<strong>do</strong> bem — dizia a médica intensivista, tentan<strong>do</strong> acalmar a mulher.<br />

Francis estava envergonha<strong>do</strong> por ter fica<strong>do</strong> tão ator<strong>do</strong>a<strong>do</strong> com o acontecimento. Era<br />

um médico, deveria estar prepara<strong>do</strong> para aquele tipo de cena. Anos o separavam da<br />

residência, quan<strong>do</strong> tinha atendi<strong>do</strong> em pronto-socorro, e aquilo o tinha pega<strong>do</strong> com uma<br />

intensidade avassala<strong>do</strong>ra. Quan<strong>do</strong> empurrou a maca para junto da médica e da<br />

enfermeira, ele estava tremen<strong>do</strong>. Adrenalina. Tinha outra coisa. A ferida. Parecia um<br />

rasgo, um rasgo feito por algum tipo de bicho, de fera.<br />

Sérgio chegou corren<strong>do</strong> e começou o atendimento ali mesmo no corre<strong>do</strong>r.<br />

— Helena, vamos precisar de duas bolsas de sangue para a Fernanda. Francis, entre na<br />

UTI e chame as enfermeiras. Isso não tá nada bom, ela está descorada, perdeu muito<br />

sangue. Helena, eu vou pinçar a artéria. Segure firme a cabeça dela, tem que ser de<br />

primeira, ok? Agora!<br />

A médica soltou a ferida. No mesmo segun<strong>do</strong> a enfermeira revirou os olhos e puxou<br />

a cabeça para trás, enquanto um jato de sangue acertou o rosto <strong>do</strong> médico socorrista.<br />

Nesse momento um enfermeiro e uma auxiliar chegaram no corre<strong>do</strong>r, e Francis, ven<strong>do</strong><br />

os novos profissionais, não saiu dali.<br />

— Bernar<strong>do</strong>, segure os pés dela — disse Helena.<br />

O enfermeiro obedeceu de imediato.<br />

— Como você se machucou assim, hein, menina? — perguntou o médico num<br />

sussurro retórico.<br />

Francis nem cogitou aproximar-se. Muito ajudava quem não atrapalhava. Ficou<br />

assistin<strong>do</strong> àquela cena frenética esfregan<strong>do</strong> as mãos. Um cheiro horrível chegou às suas<br />

narinas. Um cheiro que nunca tinha senti<strong>do</strong> antes. Estremeceu mais uma vez. E se o<br />

<strong>do</strong>utor Sérgio estivesse certo? E se tivessem si<strong>do</strong> expostos a algum agente químico ou<br />

biológico? Aquele cheiro talvez estivesse liga<strong>do</strong> a isso. Ele poderia estar inalan<strong>do</strong> algum<br />

gás tóxico e mortal que só agora envolvia aquele pequeno hospital em Angatuba. Seus<br />

olhos foram para a porta dupla de acesso à UTI, a mesma porta por onde aquela<br />

enfermeira ferida tinha chega<strong>do</strong>. Um par de mãos vermelhas de sangue coagula<strong>do</strong> surgiu<br />

por uma fresta. O fe<strong>do</strong>r que entrava pelas narinas ficava mais forte conforme aquelas<br />

mãos separavam as portas e as atravessavam em direção ao corre<strong>do</strong>r. Aquele era o pior<br />

cheiro que Francis já tinha senti<strong>do</strong> em sua vida.<br />

Corina estava tensa demais para continuar parada no corre<strong>do</strong>r <strong>do</strong> pronto-socorro.<br />

Francis parecia que ia demorar um boca<strong>do</strong> conversan<strong>do</strong> com o colega interiorano. A<br />

mulher apanhou uma das cadeiras de rodas e resolveu trazer o mari<strong>do</strong> sozinha. Por certo,<br />

os socorristas <strong>do</strong> Samu que estavam lá fora seriam prestativos e a ajudariam a acomodar o<br />

pesa<strong>do</strong> mari<strong>do</strong> na cadeira de rodas. Depois teria uma faixa de dez metros de brita para

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!