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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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o quarto da minha filha atrás <strong>do</strong> cheiro, acabou a luz. Aí minha filha começou a gritar,<br />

eu acendi uma vela, falei para ela descer e fiquei aqui esperan<strong>do</strong> a luz voltar para descer<br />

com a minha vozinha. Eu nem mexi com ela porque ela estava <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong> e não tinha<br />

fumaça aqui.<br />

— Então ela não desmaiou por causa da fumaça.<br />

— Não.<br />

A mulher entrou no quarto e deu passagem para Queiroz. O bombeiro ficou olhan<strong>do</strong><br />

um instante para a velha, parecia um defunto. O bombeiro olhou para a neta como quem<br />

pede permissão. Tirou uma das luvas e apertou o pescoço da senhorinha. Tinha pulso,<br />

mas estava bem fraco.<br />

— Quantos anos ela tem?<br />

— Noventa e oito.<br />

— Ela está bem fraquinha. Está <strong>do</strong>ente?<br />

— Não. Tem mais saúde que eu e você juntos, acredita? Ela desce de eleva<strong>do</strong>r e<br />

caminha to<strong>do</strong>s os dias, nunca pega gripe. É impressionante. Só não desce de escada por<br />

causa <strong>do</strong> joelho. Estava bem, conversamos na hora <strong>do</strong> jantar. Ela riu comigo contan<strong>do</strong><br />

uma confusão que viu na rua hoje.<br />

— Prefiro não descer com ela no meu ombro. Eu poderia, pois ela está respiran<strong>do</strong>,<br />

mas está muito fraquinha. Tenho me<strong>do</strong> de ela quebrar uma costela, algum osso. Acho<br />

mais prudente esperar a Defesa Civil. Se a energia voltar, eles descem com ela numa<br />

cadeira de rodas pelo eleva<strong>do</strong>r.<br />

— Será que vai precisar de cadeira de rodas? Ela vai ficar deprimida quan<strong>do</strong> souber.<br />

— Se ela não acordar, vai precisar, sim.<br />

A mulher se afastou <strong>do</strong>is passos e derrubou a vela.<br />

— Cuida<strong>do</strong>, senhora. O fogo tá lá embaixo. Não vá começar um incêndio aqui em<br />

cima.<br />

Queiroz abaixou e apanhou a vela. Quan<strong>do</strong> levantou, a vela tinha apaga<strong>do</strong>. O pavio<br />

emanou um cheiro característico de parafina. Colocou a vela sobre uma cômoda e voltou<br />

a lanterna para a mulher. Ela estava de joelhos e com o tronco flexiona<strong>do</strong> para a frente.<br />

— Ai! É aquela <strong>do</strong>r de novo.<br />

— O que foi?<br />

— Uma cólica, horrível. Nossa!<br />

— A senhora está bem?<br />

— Não, Queiroz! Dói muito! Parece que meu estômago vai virar <strong>do</strong> avesso.<br />

Queiroz olhou para a velha na cama. Teve uma sensação ruim. Muitas vezes já<br />

estivera assim, em apoio à evacuação, em prédios sem energia, acudin<strong>do</strong> pessoas, mas

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