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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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Porto, apaixona<strong>do</strong> pelo amigo que quase tinha perdi<strong>do</strong> na noite passada, ficaria dentro<br />

daquele quarto, tranca<strong>do</strong> para pensar sobre essas coisas quan<strong>do</strong> estivesse sozinho e<br />

seguro. Ele não tinha se da<strong>do</strong> conta <strong>do</strong> quanto gostava de Graziano até a vampira jogar<br />

em sua cara a razão de ele ter volta<strong>do</strong>. Como alguém poderia ter feito aquilo se não<br />

amasse quem era leva<strong>do</strong> por aqueles monstros? Só alguém apaixona<strong>do</strong>. Cássio tinha<br />

reprimi<strong>do</strong> aquele sentimento e continuaria reprimin<strong>do</strong>, posto que não queria que<br />

ninguém soubesse daquilo. Não queria ninguém lhe apontan<strong>do</strong> o de<strong>do</strong> na rua. Não<br />

queria ser discrimina<strong>do</strong> na corporação só porque sua alma não distinguia gêneros. Desde<br />

ce<strong>do</strong> ele sabia que amava meninos e meninas. Ele se encantava com um sorriso, com uma<br />

gentileza, e não com o rosa ou o azul. Cássio tinha me<strong>do</strong> porque amava as pessoas.<br />

Amava as pessoas. Por muito tempo não soube o que era isso. Até descobrir na<br />

a<strong>do</strong>lescência que existia mais gente assim. O pai não ia entender. A mãe não ia entender.<br />

Ele não queria entender. Ele só desejava ser queri<strong>do</strong>, ser visto como normal e para to<strong>do</strong>s<br />

os outros o normal, era caminhar como ga<strong>do</strong>, como a maioria, ajustan<strong>do</strong>-se e jogan<strong>do</strong><br />

para o fun<strong>do</strong> da alma o que não se adequava. Então quan<strong>do</strong> casou com Thais tiveram um<br />

casamento feliz a princípio. Cássio amava Thais de verdade. Cássio se apaixonava por<br />

pessoas, e tinha se apaixona<strong>do</strong> perdidamente por aquela mulher. Foi assim que percebeu<br />

que escondia seus outros amores e seu outro gostar, não para agradar o mun<strong>do</strong>, mas para<br />

agradar a si mesmo. Cássio sofria porque não queria ser assim. Nem mesmo pensava nisso<br />

agora. Agora marchava decidi<strong>do</strong> para o térreo e andava pelo pavilhão de chão de<br />

concreto queima<strong>do</strong>, in<strong>do</strong> em direção à Land Rover da <strong>do</strong>utora Suzana, que tinha lhe<br />

cedi<strong>do</strong> o veículo para sua nova incursão em São Paulo. Era nisso que pensava. Que era o<br />

sargento responsável por aquelas pessoas e que tinha prometi<strong>do</strong> voltar à cidade<br />

moribunda para salvar aqueles que tinham fica<strong>do</strong> para trás. Foi assim, com essa<br />

determinação, que o primeiro destacamento misto, forma<strong>do</strong> por militares e civis, por<br />

enfermeiros e comerciantes, leva<strong>do</strong>s por uma Land Rover, um Urutu e três ônibus<br />

ro<strong>do</strong>viários, partiu <strong>do</strong> Hospital Geral de São Vítor rumo a São Paulo para sua primeira<br />

missão de resgate e reconhecimento.<br />

Mallory estava exausta, mas em qualquer rosto para o qual olhasse encontrava<br />

também as mesmas expressões cansadas e os olhos caí<strong>do</strong>s. Não ia abrir a boca para<br />

reclamar até que to<strong>do</strong>s os pacientes estivessem aloja<strong>do</strong>s e devidamente conforta<strong>do</strong>s.<br />

Agora não era mais a enfermeira da UTI <strong>do</strong> Instituto da Criança. Era a enfermeira<br />

Mallory, a enfermeira <strong>do</strong> Hospital Geral de São Vítor. Ainda não tinham energia elétrica<br />

nem toda a estrutura para atendimento, mas teriam. Doutor Elias tinha volta<strong>do</strong><br />

esbafori<strong>do</strong> e contente <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> prédio, liga<strong>do</strong> ao primeiro por uma larga e bem

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