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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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seu posto para saber o que acontecia e se a pobre mendiga precisava de ajuda, quan<strong>do</strong><br />

sentiu um cheiro horrível chegan<strong>do</strong> no ar. Era um fe<strong>do</strong>r absur<strong>do</strong> que o obrigou a tapar<br />

as narinas. Só podia vir da mendiga. Conferiu o canhoto de pagamento de cinco homens<br />

que desceram e saíram gritan<strong>do</strong> pela calçada, e deixou mais <strong>do</strong>is garotos entrarem. Seus<br />

olhos voltaram para a mulher, que estava caminhan<strong>do</strong> com dificuldade e chegan<strong>do</strong> perto<br />

da fila. Queria ajudá-la, posto que era uma senhora anciã, que o fazia lembrar de sua<br />

mãe. A velha vomitou ali na calçada, lançan<strong>do</strong> um jato de líqui<strong>do</strong> escuro e fe<strong>do</strong>rento que<br />

revirou seu estômago. Contu<strong>do</strong>, Amintas não notava nos olhos <strong>do</strong>s frequenta<strong>do</strong>res aquela<br />

agonia com o cheiro. Alguns tinham vira<strong>do</strong> o rosto enoja<strong>do</strong>s com o vômito, mas<br />

ninguém comentava o cheiro. Então seus olhos se encontraram com os da mulher,<br />

fazen<strong>do</strong> com que Amintas se arrepiasse to<strong>do</strong>. Por um segun<strong>do</strong> viu aquela mulher com os<br />

olhos vermelhos como sangue, ilumina<strong>do</strong>s como os olhos de um gato. Esfregou os seus<br />

para enxergar melhor. Agora não via a estranha cor nem o brilho. Restavam o o<strong>do</strong>r<br />

terrível e uma vontade inexplicável de partir para cima da velha. A velha virou-se e foi<br />

embora, desaparecen<strong>do</strong> na esquina e deixan<strong>do</strong> uma estranha sensação em Amintas, tão<br />

estranha que só depois ele se deu conta <strong>do</strong>s rostos horroriza<strong>do</strong>s e <strong>do</strong> silêncio na fila.<br />

Amintas guar<strong>do</strong>u seu revólver de volta no coldre. Ele tinha saca<strong>do</strong> a arma e estava com o<br />

de<strong>do</strong> no gatilho, sem nem se dar conta de que, se a velha tivesse fica<strong>do</strong> ali mais um<br />

instante, ele a teria descarrega<strong>do</strong> no corpo dela.<br />

Amintas passou a mão no pescoço e bufou, olhan<strong>do</strong> para os homens que ainda o<br />

encaravam com certo temor. Subiu as escadarias corren<strong>do</strong> e pediu para o Toninho descer<br />

e olhar a porta. O velho leão de chácara correu para o banheiro <strong>do</strong> fun<strong>do</strong> e se trancou<br />

ali, abrin<strong>do</strong> a torneira e se olhan<strong>do</strong> no espelho. Deixou a água fria penetrar em sua<br />

barba, e as gotas geladas emaranhadas aos fios pingavam.<br />

— Êeee. Que tá acontecen<strong>do</strong>, homem? — perguntou-se, diante <strong>do</strong> reflexo.<br />

Ter saca<strong>do</strong> a arma o perturbara. Por que tinha ergui<strong>do</strong> o revólver para uma velha?<br />

Nunca tinha feito isso. Estava fican<strong>do</strong> louco? Quan<strong>do</strong> recobrou a consciência <strong>do</strong><br />

movimento na calçada, estava com o de<strong>do</strong> no gatilho. Nunca fazia isso. Nunca. E se<br />

tivesse atira<strong>do</strong>?<br />

Rápidas batidas na porta fizeram com que se sobressaltasse. Amintas secou o rosto e<br />

abriu uma fresta, como se estivesse com me<strong>do</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> pela primeira vez na vida.<br />

Através da fresta viu o rosto contraí<strong>do</strong> de Ceci, uma garota vinda da periferia de<br />

Salinópolis, parada no corre<strong>do</strong>r. Amintas terminou de abrir a porta.<br />

— Seu Amintas, me acuda.<br />

— O que foi?<br />

— Dona Zelina pediu para o senhor ir até o meu quarto. Meu cliente morreu.

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